Futuro é uma palavra que atemoriza Taniamar Quintana da Silva, 51 anos, esposa do porteiro Suraí Silva da Silva, 51 anos, que faleceu no hospital Lauro Réus, em Campo Bom, em 19 de março. Ela mal consegue viver o presente, repleto de incertezas até quanto à próxima refeição, desde a morte do marido. Mais uma história que ilustra o empobrecimento das famílias com as perdas de entes queridos para o coronavírus.
Suraí padeceu por um mês e três dias com a covid-19. Da febre e dor de garganta passou à falta de ar, à máscara de oxigênio e, por fim, foi entubado. Estava nessa condição, na UTI hospitalar, quando o fornecimento de ar aos pacientes graves sofreu uma interrupção. Seis doentes morreram, entre eles, Suraí.
Além do choque pela perda, Taniamar teve que amargar a covid-19. Logo após o marido ser internado, ela recebeu o diagnóstico da doença e sofreu com os sintomas: dor de cabeça, nas juntas, febre. Ela e um filho de 14 anos de idade. Ambos acabaram melhorando, sem precisar de hospitalização.
Aí veio o luto inesperado pela perda do marido. E, agora, "a pobreza tá batendo na porta", resume Taniamar. As perspectivas financeiras não são boas. Suraí ganhava pouco mais do que um salário mínimo e Taniamar acredita que vai receber 80% disso.
Ela é cuidadora de idosos, mas não tem conseguido muitos clientes. Encaminhou pedido de pensão ao INSS, mas não recebeu resposta ainda, muito menos dinheiro. Ela diz que a situação está bem difícil. A fonte de renda é incerta.
— A gente estaria passando até fome, não fosse ajuda da igreja Assembleia de Deus. O pastor leva rancho pra mim, às vezes. Consigo algum serviço semana sim, semana não.
Taniamar diz que a filha mais velha, Nataniele, pagou a sua última conta de luz. Um outro filho, Carlos, está empregado, mas os dois mais novos, que moram com ela, têm 14 e 23 anos e não trabalham.
— Um deles tem uns probleminhas de saúde, aí não tá com serviço. Na realidade, estamos dependendo de favor dos outros — resume Taniamar.