A morte de João Batista Ramos de Freitas, 63 anos, quebrou financeiramente a sua família. Servidor da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Fase) desde 1986, quando a entidade ainda se chamava Febem, ele recebia salário, horas-extras e aposentadoria (já estava aposentado, mas continuava trabalhando). Tudo isso cessou quando morreu por covid-19, em 18 de maio do ano passado, após mais de um mês hospitalizado. História ilustra o empobrecimento das famílias com as perdas de entes queridos para o coronavírus.
Conforme familiares, ele contraiu a doença no trabalho, onde atuava como agente sócioeducador (monitor), em contato direto com crianças e adolescentes. Brincalhão, Freitas era querido por colegas. De tal forma que vários deles se cotizaram para ajudar a viúva, Ângela, que é dona de casa.
Após cinco meses sem renda, ela começou a receber pensão pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), equivalente a 50% da aposentadoria de Freitas. Algo em torno de R$ 2,5 mil mensais. O dinheiro que recebe representa oito vezes menos que a renda de Freitas, calcula um dos filhos da vítima, João Marcello Bonotto de Freitas, que é árbitro de futebol. Ele diz que o pai tinha salário em torno de R$ 15 mil e mais aposentadoria, de cerca de R$ 5 mil.
— Como tudo que é ruim pode piorar, falta dinheiro para pagar a casa geriátrica que abriga a mãe do meu pai, idosa e com Alzheimer. É despesa fixa de R$ 3 mil mensais, mais do que a pensão recebida pela minha mãe para custear todas as despesas — cita João Marcello.
Ângela teve de pedir ajuda à mãe dela, que doa sua própria aposentadoria para a filha e netos. Ela foi morar com Ângela, para não ter de pagar aluguel.
— Os R$ 3 mil da clínica são a maior despesa mensal. Ainda bem que estou em dois estágios. Ajuda, mas não é suficiente nessa situação. Eu mesmo tive de trancar a matrícula na faculdade de Educação Física porque não consigo mais pagar a mensalidade. Era antes custeada pelo pai. Nossa família foi do 80 para o 8, no pior sentido — conta João Marcello, que também tem os irmãos Santa Helena e Thais.