Até o início de 2020, a vida parecia sorrir para Pedro Roberto de Mattos Siqueira, 44, e sua mulher, Isadora Dutra Siqueira, 42, moradores da Vila Santa Cecília, em Viamão. Trabalhadores inveterados, os dois investiram as economias de décadas para montar uma pet shop no centro de Porto Alegre. Estava tudo indo que é uma maravilha quando a covid-19 se manifestou. História que ilustra o empobrecimento das famílias com as perdas de entes queridos para o coronavírus.
Os dois ficaram doentes. A doença começou por Pedro, que foi tomado pelo cansaço, em junho do ano passado. Isadora logo manifestou perda de apetite. Os dois desconfiaram da covid-19 e procuraram médico, que receitou repouso e alguns medicamentos. O mal-estar não passou, veio a falta de ar e o casal foi enviado ao hospital Conceição, em Porto Alegre, de ambulância. Foram internados em quartos separados e se comunicavam por mensagem. Mas Pedro piorou e teve de ir para a UTI, onde foi entubado. Faleceu em 17 de junho, dois dias após a esposa receber alta.
Não há dia em que Isadora deixe de recordar o marido. Ao falar sobre ele, choraminga.
— A gente era muito parceiro, trabalho nunca nos assustou. Agora que estava tudo indo bem, acontece isso — lamenta ela.
Isadora teve de redobrar esforços após a morte do marido. Ela ficou hospitalizada por mais de duas semanas e ainda passou um mês em casa, com sequelas da doença e a dor do luto. Depois, voltou a trabalhar.
Pedro foi gerente de posto de gasolina, dono de minimercado (ao lado da esposa), taxista e motorista de aplicativo.
Até a doença se manifestar, o casal trabalhava 11 horas por dia na pet shop. O ritmo continua o mesmo, só que o que antes era serviço dividido entre dois, agora, é feito só por ela: a parte administrativa e o cuidado com os animais (venda de ração e produtos de limpeza, sobretudo). Dois empregados cuidam da tosa dos pets.
— A carga de serviço aumentou e o dinheiro diminuiu. E cada vez que o comércio é fechado vira um desespero, porque meu forte é banho e tosa, que não funcionam quando o comércio é proibido de funcionar — descreve Isadora.
Ela diz que teve de pedir dinheiro emprestado para conhecidos, para poder saldar o financiamento da compra da loja de produtos animais. Ficou 2020 inteiro pagando débitos.
Isadora diz que tinha lucro e planos de viagem, antes da doença. Hoje só consegue se manter, em decorrência de dois dilemas oriundos da covid-19: perdeu o companheiro e sócio e, também, o movimento da loja caiu muito com a pandemia.
O filho do casal, Pablo, ajudou na pet shop até conseguir um emprego. Depois, Isadora teve de contratar dois funcionários. Ela recebe do INSS pensão de um salário mínimo, referente à morte do marido.
— Não virei pobre, mas empobreci. Hoje, consigo sobreviver — define.