
A experiência do distanciamento social, mesmo que temporário, já é marcante. Em meio a uma pandemia como a do coronavírus, que ceifa milhares de vidas, pode se sobressair ainda mais, tendo como consequências mudanças em práticas, costumes e até na identidade de uma sociedade. É difícil sair intacto de um momento como o que estamos vivenciando atualmente.
Mas o que mudará? É certo que se trata de uma pergunta ainda sem respostas definitivas, longe disso. O avanço tecnológico nos permite levar uma vida menos solitária do que o conceito de isolamento poderia presumir, permitindo o trabalho remoto, a interação com amigos e familiares via ligações de áudio e vídeo, até festas, namoros e outras interações mediadas pelas telas do celular ou do computador. A questão, ainda assim, persiste: como ficarão nossas relações sociais depois do atual período de afastamento físico compulsório? A internet encurta distâncias, mas os relacionamentos interpessoais nem sempre – ou quase nunca? – prescindem de uma proximidade real que a grande rede virtual é incapaz de fornecer.
Também é certo que esse período nos obrigou a realizar experimentos, mudar rotinas, adaptar-se. Milhões de nós têm consumido cultura e entretenimento sem sair de casa. Outros tantos fazem reuniões de trabalho de maneiras que até então não haviam feito. Aulas presenciais de todos os níveis foram substituídas por videoaulas. Consumimos informação sobre pesquisas científicas na área da saúde em quantidades que seriam inimagináveis em outros tempos. Se o mundo capitalista se adapta aos desejos do consumidor, ou ao menos evolui junto a eles, pode-se projetar com alguma segurança: muita coisa será diferente daqui para a frente.
Só as compras online realizadas no país aumentaram 42% entre março e abril, na comparação com o mesmo período do ano passado, segundo dados da Ebit Nielsen, que mede as transações virtuais no país. Nesses dois meses, ainda conforme a Edit Nielsen, 31% das pessoas que usaram e-commerces declararam que o fizeram pela primeira vez na vida. É possível que, passado o período de quarentena, haja queda no registro de compras online.
Mas também é possível pensar que, adquiridos certos costumes, estes têm chances de serem incorporados ao cotidiano das pessoas. Até porque, ressalte-se, uma vacina contra o coronavírus só deve ser aprovada, pelo menos, em 2021. Ou seja, há tempo para novos hábitos se consolidarem.
As chamadas “lives” dos artistas persistirão após meses dessa prática? As idas e vindas pela cidade diminuirão, desafogando o trânsito e levando os especialistas a desenvolverem novos estudos sobre a mobilidade urbana das cidades pós-covid-19? O número de vendas (e vendedores) nas lojas de shopping seguirá sendo o mesmo? As máscaras serão incorporadas ao figurino das pessoas sempre que a “temporada de gripe” se aproximar? Como ficarão as fronteiras e a circulação entre países com índices distintos de imunização?
As perguntas são muitas. E as respostas definitivas, impossíveis de serem alcançadas neste momento. Porém, é possível fazer conjecturações. Por isso, GaúchaZH convidou cinco estudiosos de campos que parecem ser particularmente impactados pelas mudanças sugeridas pelo atual período de pandemia: educação, saúde, trabalho, relações pessoais e consumo de informação e entretenimento. Os cinco depoimentos estão publicados em sequência, confira: