Saúde

Tradicionalismo

Chimarrão traz benefícios para a saúde, mas é preciso cuidado

Especialistas reconhecem propriedades medicinais no consumo da bebida, mas também alertam para outros riscos que a ingestão em excesso pode provocar

GZH

Ronald Mendes / Agencia RBS
Chimarrão faz parte da identidade gaúcha e tem benefícios, mas requer atenção.

Ele é o companheiro de muitos gaúchos desde o começo do dia. Para outros, é indispensável no final da tarde. O chimarrão não é apenas uma bebida, mas sim um símbolo da identidade do Rio Grande do Sul. Apesar da erva-mate ter inúmeros benefícios para a saúde, o consumo em excesso do mate pode causar problemas de saúde.

A Ilex paraguariensis St. Hil é uma planta arbórea, nativa da Argentina, Brasil e Paraguai. A erva-mate, como é popularmente conhecida, é considerada um estimulante, tanto mental quanto muscular. É por isso que as pessoas costumam trocar o café pelo amargo, que também tem cafeína na sua composição. Isso faz com que os efeitos de energia e combate a fadiga sejam semelhantes.

Além disso, o ingrediente principal do chimarrão também tem vitaminas e minerais. Segundo a ONG Escola do Chimarrão, de Venâncio Aires, a erva-mate também tem propriedades antioxidantes e que ajudam a combater os radicais livres, auxiliando no bom funcionamento do organismo.

Alguns estudos apontam que os compostos antioxidantes presentes na erva-mate podem auxiliar no aumento do colesterol HDL, levando a uma proteção para o desenvolvimento de doenças ateroscleróticas (que envolvem obstruções nas artérias) — acrescenta Denise Ruttke Dillenburg Osório, professora do curso de Nutrição da Universidade Feevale.

É importante ressaltar, porém, que nenhum alimento isolado tem o poder de melhorar uma condição de saúde. Para haver benefícios, o consumo de ingredientes como a erva-mate deve estar associado a um estilo de vida saudável, com dieta balanceada e rotina regular de exercícios físicos.

Chimarrão requer cuidados

Apesar da erva-mate contar com inúmeros benefícios para a saúde, o ingrediente não pode ser consumido em excesso. Principalmente por pessoas que têm condições cardiovasculares e por gestantes, uma vez que a cafeína pode causar episódio de arritmia ou, ainda, interferir no desenvolvimento do bebê.

As doenças mais comuns associadas ao consumo em excesso do chimarrão são os cânceres de esôfago, estômago e cavidade oral. Para José Faibes Lubianca Neto, chefe do serviço de otorrinolaringologia da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, não é a erva-mate que exige atenção, mas sim a água quente.

— A questão é a temperatura da água. Quando superior a 65°C, deixa as células da cavidade oral, esôfago e estômago mais sensíveis aos efeitos carcinogênicos de outras coisas da dieta — explica. Ou seja, a água quente não causa câncer, mas torna as células do organismo mais vulneráveis para receberem o impacto de outros alimentos e hábitos que podem contribuir para o desenvolvimento de cânceres. 

Um gaúcho que bebe chimarrão desde a infância dificilmente tem o costume de medir a temperatura da água. Por isso, para alguns, os 65°C são pouco palpáveis. O otorrinolaringologista garante, porém, que um bom indicador é o desconforto. Se a pessoa queimar a língua ao beber, por exemplo, pode ser um sinal de que a água está muito quente.

— Os riscos são maiores para mulheres do que para homens. Outra coisa são os fatores de risco: etilismo e tabagismo. A combinação de fumar, beber álcool e tomar chimarrão com água fervendo multiplica o risco de câncer. Então o pessoal do meio rural, que gosta de fumar paieiro e tomar um mate bem quente, tem que tomar cuidado — defende Neto. 

O Rio Grande do Sul é o segundo Estado com maiores índices de câncer de esôfago. São 6,05 casos para cada 100 mil habitantes.  Já no câncer de estômago e de cavidade oral, outras neoplasias comumente associadas ao consumo em excesso do chimarrão, o Estado está em 25° lugar. São, respectivamente, 3,95 e 3,28 casos a cada 100 mil habitantes. Os dados são da Estimativa 2023 para Incidência de Câncer no Brasil, do Ministério da Saúde.

— Essas doenças, inicialmente, costumam ser silenciosas. Quando os sintomas aparecem, é porque já está em estágio avançado. Come exceção do câncer de boca, que é uma úlcera, fácil de ver. No esôfago, o principal sinal é a dor e dificuldade para deglutir — afirma o especialista. O tratamento pode ser desde quimioterapia até cirurgias para retirar o tumor.

*Produção: Yasmim Girardi


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