
Nenhuma mulher pode se ofender por ser chamada de bonita, mas, a depender do contexto, o que seria um elogio se transforma em manifestação machista e oferece munição para o adversário. Foi o que ocorreu com o presidente Lula na quarta-feira (12), ao dizer, referindo-se à ministra Gleisi Hoffmann, que nomeou uma mulher bonita para liderar a articulação política e diminuir a distância com o Congresso.
Lula poderia ter dito que nomeou Gleisi porque ela é inteligente, habilidosa, conhecedora dos meandros do Congresso. São qualidades que ele reconhece nela, mas preferiu ficar com "bonita" e passou o pior recado possível, ainda mais sabendo-se que o Congresso é um ambiente machista e que as mulheres sofrem assédio com muita frequência.
Gleisi não se incomodou. Na linha de outros petistas, saiu em defesa de Lula, dizendo que, se ele fosse machista, não teria apoiado seu nome para presidir o PT, nem trabalhado para eleger a primeira presidente do Brasil, nem colocado tantas mulheres em cargos importantes. Outros petistas justificaram o uso de "bonita" como resposta aos bolsonaristas que, nas redes sociais, dizem que as mulheres de esquerda são feias e nada atraentes.
Em seu perfil no X, criticou os bolsonaristas que estão atacando Lula e lembrou que o ex-presidente Jair Bolsonaro deu diversas declarações machistas ao longo do mandato.
"Repudio os ataques canalhas de bolsonaristas, misóginos, machistas e de violência política. Desprezam as mulheres. Não me intimidam nem me acuam. Oportunistas tentando desmerecer o presidente Lula. Gestos são mais importantes que palavras", escreveu a ministra.
Nesse ponto, é preciso concordar com Gleisi, cuja indicação foi criticada nesta coluna por ser ela uma pessoa de "pavio curto": os bolsonaristas não têm moral para criticar falas machistas, dado o histórico do ex-presidente Jair Bolsonaro no trato desrespeitoso com as mulheres, sobretudo as jornalistas. Basta lembrar a forma como ele e os filhos trataram a jornalista Patrícia Campos Melo (e acabaram condenados a pagar indenização por danos morais).
A oposição tem o direito de achar que Gleisi não é bonita ou que é despreparada para o cargo, mas não tem o direito de apelar para a baixaria, como fez o deputado Gustavo Gayer (PL-GO), um homem de baixo nível, provocador contumaz, que se escora na imunidade parlamentar para agredir os adversários. Gayer chamou Lula de "cafetão" e provocou o marido dela, Lindbergh Farias.
No X, Gayer postou: "Me veio a imagem da @Gleisi @lindberghfarias e o @davialcolumbre fazendo um trisal. Que pesadelo".
Por causa dessa postagem, Alcolumbre avisou que vai processá-lo na Comissão de Ética e na Justiça. Gleisi e Lindbergh devem fazer o mesmo. Esse não foi o único post de Gayer sobre a fala de Lula. Em outra publicação, ele escreveu: "Vai mesmo aceitar o seu chefe oferecer sua esposa para o Hugo Motta e Alcolumbre como um cafetão oferece uma GP (garota de programa)? Sua esposa sendo humilhada pelo seu chefe e você vai ficar calado?".
Lindbergh reagiu chamando o deputado de "vagabundo, canalha e assassino". A referência a "assassino" é porque, quando tinha 19 anos, Gayer se envolveu em um acidente de trânsito que resultou na morte de duas pessoas e uma terceira ficou paraplégica. A investigação concluiu que ele estava embriagado.
O deputado Luciano Zucco (PL), bolsonarista de carteirinha, esqueceu o que o seu líder fez nos verões passados, sem ser criticado por ele. Zucco disse que "é curioso notar que, em um cenário onde se espera que líderes promovam igualdade de gênero e valorizem a competência profissional, nosso presidente opta por reduzir uma mulher a sua aparência física".