Em Tóquio, há três anos, em meio a uma entrevista de final de jogo da seleção brasileira de vôlei feminino, o treinador José Roberto Guimarães aproveitou que falava para a Rádio Gaúcha na zona mista — saída da quadra — e mandou um recado:
— Quero dizer aos gaúchos que admiro muito a cultura gaúcha e as atividades dos CTGs como guardiães destas tradições. Que isto nunca morra porque é bonito demais quando um povo cultua seu passado e seus costumes.
A manifestação foi extremamente espontânea, houve o agradecimento e o papo ficou por ali. Chegada a Olimpíada de Paris, e aproveitando a abertura proporcionada pelo comando da equipe feminina de vôlei, sempre candidata a uma medalha, foi hora de retomar o assunto.
Entrevista com José Roberto Guimarães
Como é esta admiração pelo culto às tradições gaúchas? De onde vem isto?
Como eu sou caipira, lá do interior de São Paulo, eu gosto de muita coisa que tenha tradição. Os meus avós foram retireiros e eu sou muito fiel a estas tradições. Eu vejo que o gaúcho têm muito disto. É um povo que curte, que leva estes costumes dos antepassados, dos avós, bisavós de uma forma muito forte sentindo tudo isto na pele mesmo. Por isto eu curto, eu gosto das músicas, do jeito de ser e cito o quanto tudo isto é importante para o povo do Rio Grande do Sul. Uma pena a gente não ter isto em São Paulo com a nossa cultura do interior. É muito legal.
Os CTGs são entidades que também agora estão participando ativamente de ações para a retomada do Rio Grande do Sul após as enchentes.
É que o povo gaúcho tem algo diferente. É a coisa da luta, da união, de quem viveu batalhas, sofreu. Agora, com a enchente, eu estou vendo que todo mundo sofreu e estão todos se ajudando. Parabéns, eu sou fã do Rio Grande do Sul.
O que nos falta são mais times de vôlei...
Isso sim, mais isto é mais fácil. Difícil é sair das atuais dificuldades. Grande abraço para o povo gaúcho.
A sexta medalha
Esclarecido o sentimento de admiração pelos gaúchos do "caipira" Zé Roberto Guimarães, hora de falar de vôlei na Olimpíada. O técnico se mostra tranquilo, não contrariando o que é uma característica dele.
Mesmo com as duas derrotas na hora decisiva da última Liga das Nações, para Japão e Polônia, Zé não vê motivo para sobressaltos, lembrando que ambas as seleções tinham sido derrotadas pelo Brasil na etapa classificatória.
Japonesas e polonesas estão no grupo brasileiro na primeira fase o torneio olímpico, juntamente com o Quênia, adversário da estreia.
Zé Roberto atenta para o novo modelo de disputa que coloca duas seleções em cada grupo de quatro se classificando e uma terceira podendo entrar pela repescagem.
— Tem que ter cuidado — alerta o treinador, lembrando que os critérios se saldo de sets ou set average podem ser traiçoeiros, mesmo em caso de vitórias.
Quanto à estreia diante das quenianas, o cuidado maior é com a ansiedade, para que venha a ocorrer um provável 3 a 0, o que seria excelente para a classificação. No restante da campanha, ainda há preocupação em melhorar o sistema defensivo, com recepção e passes precisos.
O Brasil tem cinco medalhas olímpicas no vôlei feminino. Sob o comando de Bernardinho houve os bronzes em Atlanta e Sydney (1996 e 2000).
Já com José Roberto Guimarães no comando vieram os ouros de Pequim em 2008 e Londres em 2012, bem como a prata em Tóquio em 2021. O treinador já havia sido campeão olímpico dirigindo o time masculino em 1992 e é o único técnico na história a ter vencido nas duas categorias.