Poucos treinadores valorizam tanto publicamente seus elencos e os protegem como Renato Portaluppi. Esta prática sempre teve reflexo positivo na gestão de grupo, e os resultados de campo acabam recompensando a postura. Também não se vê todo o dia uma relação tão harmônica entre técnico e diretoria quanto no Grêmio, o que justifica a longevidade do comandante no cargo junto com um presidente que também é longevo. Sem tudo isso, tão comum nos lados da Arena nas últimas temporadas, fica em xeque a manutenção de Renato — seja por convicção dos dirigentes ou por vontade do profissional.
O que sempre pareceu uma tendência, a manutenção do trabalho com a renovação de contrato, está sendo solapado pelo desempenho instável do time sem resultados convincentes e por uma aparente desistência do treinador. Renato está se repetindo desagradavelmente ao falar que "não há R$ 200 milhões para montar um time". Não foi diferente após a derrota para o São Paulo.
Isto denota descontentamento com seus jogadores, reclamação pública contra seus dirigentes e uma ponta de inveja pelo fato de haver agremiações gastando isto. Curiosamente, dois casos destes milionários são clubes nos quais o nome do técnico gremista circula como especulação, especialmente o Atlético-MG.
Não está agindo de má-fé quem interpreta como anseio do comandante do Grêmio o de buscar um suporte financeiro gigante para trabalhar, algo que pode até estar se desenhando. Basta deixar o Tricolor ao final da Copa do Brasil.
Se não é esta a intenção de Renato Portaluppi, ele precisa se dar conta que suas declarações dão a ideia de que ele quer trabalhar onde há dinheiro para investimento, algo que se sabe não será a tendência no Grêmio. O técnico parece esquecer o próprio passado, quando foi campeão e montou equipes notáveis nos últimos quatro anos sem haver contratações milionárias.
O que tem sido falado repetidamente é uma justificativa frágil para quem está criando para si a obrigação de vencer a Copa do Brasil. Renato está se comprometendo demais e sabe que é difícil sustentar tais promessas no nível desafiador em que estão sendo feitas.
Quando o técnico gremista fala em conversa com o presidente após a Copa do Brasil para ver "o que é melhor", está abrindo muito mais a possibilidade de uma saída do que de uma sequência.
Estas nunca foram as palavras em momentos como este em anos anteriores, especialmente porque não se especulava que alguém que investe R$ 200 milhões cogitava buscá-lo. Pelo respeito que tem pelo Grêmio, por saber que está difícil fazer o time produzir muito mais do que vem fazendo, Renato sutilmente está pedindo para sair.