A semana da dupla Gre-Nal uniu os dois grandes clubes gaúchos numa mesma prática, a de dar explicações subestimando fatos históricos e querendo impor uma verdade que não é tão verdadeira assim. Foi assim após o jogo do Grêmio contra o Bragantino, quando Maicon perdeu as estribeiras consigo mesmo ou com o técnico Renato Portaluppi assediando um jogador do adversário explicitamente ainda no gramado. No caso do Inter, depois da vitória sobre o Atlético-GO, o técnico Eduardo Coudet e o diretor executivo Rodrigo Caetano foram claramente divergentes em suas entrevistas, conflitando suas ideias como se fossem opositores em uma mesma causa. Para todas estas situações, veio algo que que desafia a inteligência das pessoas, a justificativa de que "é normal o que aconteceu".
Todos os fatos ocorridos podem não ser novidade, mas estão longe da normalidade, especialmente por terem acontecido diante de câmeras e microfones. Maicon nunca perdera o controle antes, mesmo que tenha, por vezes, ficado descontente consigo mesmo, com os companheiros ou com o treinador. A explosão de irritação do capitão gremista pode ter todas as justificativas, mas não é normal, conforme tentaram minimizar as manifestações em entrevistas.
Da mesma forma, Renato Portaluppi, teve a naturalidade de admitir que foi consultar o atacante Claudinho, do Bragantino, para que ele eventualmente jogue no Grêmio. Podendo até merecer uma discussão se isto é ético, a verdade é que não é comum. Assédio explícito em pleno campo nunca tinha sido visto em um jogo do Brasileirão. Aí, na entrevista coletiva, sob a capa da tão decantada malandragem, o treinador afirmou que isto acontece várias vezes, "mas que não é flagrado". Convenhamos, não se deve criar uma fantasia destas e oferecê-la ao público porque sempre haverá ingênuos para acreditar.
Pelos lados do Inter, na terça-feira (3), Eduardo Coudet disse que seu grupo precisa de contratações e que o jovem Maurício vai demorar para estrear. Minutos depois, o diretor Rodrigo Caetano o contrariou na frente da mesma câmera e no mesmo microfone, afirmando que o grupo colorado é suficiente e que o jovem meia tem condições de estar em campo imediatamente. Sabem quantas vezes uma situação destas aconteceu no Beira-Rio nas últimas décadas? Nenhuma. Mas isto não impediu que o vice-presidente do clube, Alexandre Chaves Barcellos, viesse a público um dia depois para dizer que tais divergências "são normais". Errado. É óbvio que discordâncias são inerentes à convivência num vestiário, mas é neste âmbito que elas são tratadas quase sempre. Manifestações contraditórias para uma audiência aberta é uma distorção do processo, uma anormalidade, exatamente o oposto do que disse o dirigente.
É até provável que não haja crise entre Maicon e seus companheiros, ou com o comando gremista. Não há porque desconfiar do que diz o jogador. Também não há nenhuma ilicitude em Renato tentar sondar um jogador adversário em pleno gramado. Da mesma maneira, Coudet e Rodrigo Caetano podem divergir frequentemente procurando o bem do Inter. O que não pode é quando tais coisas aconteçam de maneira diferente do usual venham a ser justificadas como se fosse algo publicamente corriqueiro. Isto na linguagem popular chama-se "enrolação " ou "querer tapar o sol com a peneira". Os torcedores não merece ser tido como tolos.