Surpresa não é. Trata-se apenas de mais uma medida idealizada no Rio de Janeiro, que tem o Flamengo como apoiador, a federação fluminense como apoiadora e o governo federal como avalista. A novidade é a formalização da parceria da CBF. A volta dos torcedores aos estádios contraria as previsões e os conselhos da ciência e será a consagração de um atropelo brasileiro no combate à pandemia, que levará clubes a pressionarem governantes estaduais e municipais.
O Rio Grande do Sul se notabilizou pelo cuidado com que foi tratada a volta do futebol. O Gauchão, por total prudência e responsabilidade, recomeçou mais tarde que a maioria dos estaduais. Mesmo que nos últimos tempos tenha havido uma pequena distensão entre governo e clubes, nada se mostrou precipitado ou com pressão exagerada. O que se vê agora é algo diferente e que pode ser mais grave.
Sob pena de ver outras praças irresponsavelmente aprovando por suas autoridades sanitárias a volta das torcidas aos estádios, ainda que com 30% da ocupação, será que a dupla Gre-Nal exercerá pressão para que aqui também se cometa o mesmo erro?
A alegação seria a desequilíbrio técnico e a tentativa de igualar um cenário de vantagem para quem terá torcedores nas arquibancadas. Dá até medo pensar que haveria a possibilidade de os clubes jogarem para o governador ou o prefeito falsas acusações de serem responsáveis por uma desvantagem de nossas equipes no Brasileirão. Não é da índole de Romildo Bolzan ou Marcelo Medeiros. Eles não farão e nem permitirão que isto aconteça.
Público nos estádios é o ideal do futebol e de todos os espetáculos, mas em condições normais. O mundo ainda resiste a isso, estrategicamente.
Não é o Brasil, medalha de prata em mortes pela covid-19, que teria moral para ser vanguarda neste tema. Louve-se e que se mantenha com sua posição o polêmico Andrés Sanchez, presidente do Corinthians, que diz que não admitirá seu clube disputando um campeonato se houver liberação de torcidas apenas em algumas cidades do Brasileirão. Que as autoridades não se dobrem aos demais clubes e entidades interessados em torcida, que significa dinheiro e que redunda em taxas.