Gosto do conceito que define o jornalismo como “o registro da História enquanto ela está acontecendo”. Depois, é preciso depurar, analisar e olhar por outros ângulos. Isso leva tempo. Séculos, às vezes. São raros os consensos nas narrativas sobre os fatos e personagens importantes. Pelé é um deles. Um dos únicos. Se você pronunciar essas duas sílabas em qualquer lugar da Terra, receberá de volta um sorriso.
Enquanto fui editor de Opinião do Grupo RBS, sugeri que, quando Pelé fez 80 anos, a empresa publicasse um editorial em sua homenagem. Minha sugestão foi aceita. Naquele dia, entre os maiores veículos do país, Zero Hora foi o único a dedicar esse espaço ao tema. Usei como argumentos a relevância do personagem e tudo o que ele representa. Talento, alegria, humildade, respeito, arte, técnica, eficiência. Poderia continuar para sempre meu desfile de adjetivos. Mas, naquele 23 de outubro de 2020, fiquei especialmente feliz pelo reconhecimento feito em vida.
Tenho acompanhado as notícias sobre a luta do Rei do Futebol em um hospital de São Paulo. Se eu pudesse, mandava publicar tudo o que já está pronto sobre ele, imediatamente. Já teria publicado, aliás. Depois, um dia, quando ele morrer, publicaria tudo de novo. Não sei o que vai acontecer entre quarta, quando escrevo este texto, e quinta, quando será publicado. No fundo, lá no fundo, a gente espera que Pelé fique bom, se levante e volte a vestir a camiseta da Seleção. Camiseta que ele nunca tirou.
Penso nisso neste fim de ano, quando estamos todos mexidos. Manter a espinha ereta e a mente quieta é um desafio nesses tempos de tanto barulho. Não quero apelar para o sentimentalismo. Sorrisos, não lágrimas. Isso sim. É quase uma promessa de ano novo. Além da dieta, do exercício físico e do abraço no amigo que adoeceu na eleição, vítima de um radicalismo tão contagioso. A promessa é um ponto de partida.
Não tenho vocação para guru, um jeito fácil de ganhar cliques e seguidores. Mas, se eu pudesse dizer uma coisa, apenas uma, nesse apagar de luzes de 2022, seria: faça todas as homenagens e os carinhos, mostre amor e afeto, com palavras, gestos, do jeito que você consegue. Faça tudo isso, com pressa absoluta, enquanto as pessoas que você quer bem e admira estão vivas. Desejo a todos um baita 2023. É só a gente construir, que vai dar certo.