Faço parte de uma tribo. Nos encontramos ao raiar do dia, empurrando nossos carrinhos. Estamos sonolentos, malvestidos, despenteados e remelentos.
Aqui em casa, temos uma combinação. A Jaque, minha esposa, atende a Maya durante as madrugadas. A partir das 6h, começa meu turno. O ponto alto é a parada na Praça da Encol, onde a Maya vibra cada vez que passa por um “A”, que significa “au-au”, em mayolês.
Alguns casais vão chegando com os seus filhos. Esporadicamente, existe interação social, sempre iniciada com as mesmas perguntas: “Quantos meses? Qual o nome?”. Mas existe uma maneira de reconhecer um de nós, da nossa tribo, a dos pais matinais sonolentos com seus filhos pequenos. É só olhar o que um pai faz quando o pimpolho ou a garrafinha de água cai no chão. Ele sopra, tanto o joelho do filho quanto o bocal da garrafinha, e diz: “Já passou, já passou”. Feita a higiene (sopro) pós-acidente, vida que segue. Quando as mães estão junto, o procedimento costuma ser mais elaborado. Certo? Errado?
Tenho refletido sobre algo que ouvi de uma terapeuta de família. Nossa tendência é de acreditar que procedimentos uniformes são o melhor para nossos babies. Depende. Quando falamos sobre valores e algumas rotinas básicas, sim. Mas, explicou essa profissional, faz bem para as crianças saber que existem jeitos diferentes de dar comida, de vestir, de nanar, de dar banho, de contar histórias. Tem o jeito da mãe, o do pai, o das manas, o dos vovôs e o das vovós. E o de todos que estão perto e ajudam. Essa pluralidade de jeitos funciona quando expressa cuidado e amor – esses sim, imprescindíveis. Eu, por exemplo, sempre visto a Maya com uma camiseta e com um short. Outro dia, fiquei me perguntando por que nunca opto por vestidinhos, batas e macacões. Cheguei à resposta: porque camisetas e shorts são mais fáceis de vestir. Não têm aquele monte de botõezinhos e não levo meia hora para descobrir qual é a parte da frente e qual é a parte de trás. Como diria Freud, uma camiseta e um short, às vezes, são apenas uma camiseta e um short.
Então, o sol vai ficado mais forte. Hora de voltar para casa e tomar café da manhã com a mamãe, que deve estar acordando depois de uma madrugada movimentada.
Nós, da nossa tribo, nos encontramos novamente, marchando no sentido oposto ao que viemos. Nos olhamos. Um leve cumprimento de cabeça é mais do que o suficiente. Afinal, cada um tem seu jeito.