Antes de entrar na argumentação central do texto, importante deixar claro que só comento esse assunto porque o governador Eduardo Leite trouxe-o à tona, em rede nacional. Eu e boa parte dos gaúchos já sabíamos que ele é gay. E respeitamos a sua decisão de, até agora, não falar sobre isso publicamente.
Quando se elegeu prefeito de Pelotas, entrevistei-o no programa Mãos & Mentes, da TVCOM. Perguntei qual era sua opinião sobre direitos das minorias. Ele deu um sorriso irônico, de quem entendeu a oportunidade para falar, mas optou por ser genérico. Fui para a próxima pauta. Até porque ser homo, hétero ou qualquer outra coisa, nada diz sobre caráter e honestidade. Ou mesmo sobre integridade, palavra repetida por Eduardo Leite em todas as entrevistas que deu até agora sobre sua orientação sexual e afetiva.
Gays que falam não são mais íntegros do que os silenciosos. Até porque, muitas vezes, não se assumir publicamente vai muito além de simples uma opção racional. Passa por uma série de limitações que independem da vontade do indivíduo. São processos longos e, frequentemente, pontuados por dor e sofrimento.
Nós, aqui no Brasil, temos um jeito próprio de lidar com as questões privadas dos políticos. Somos respeitosos e não invasivos. Nos Estados Unidos, por exemplo, considera-se que todos os comportamentos e características de uma pessoa pública são importantes para que o eleitor possa avaliar e decidir. Quando alguém decide ser um personagem exposto, sabe que isso ocorrerá.
O anúncio de Eduardo Leite, embora pessoal, está inserido em um contexto político, quando ele se lança em uma candidatura com visibilidade nacional. De qualquer forma, só há motivos para reconhecer méritos no gesto. A busca de felicidade é um direito. Se Eduardo Leite ajudar, pela força do exemplo, pessoas que sofrem pela opressão e pelo medo, já terá sido suficiente. A visibilidade de políticos, artistas, empresários, jornalistas e atletas impõe um compromisso ainda maior com a naturalização das questões de gênero, de cor da pele e de tantas outras que ainda são alvo de preconceito.
O Rio Grande do Sul já teve um governador negro – Alceu Collares – uma mulher – Yeda Crusius – e agora, um gay. O bom disso tudo é que os segundos não serão mais notícia por esse motivo. E essa é a maior conquista, da qual devemos nos orgulhar