Leitores indagam e até mesmo duvidam de um fenômeno que ganhou relevância esta semana: o vai-e-vem de milhões de votos entre Bolsonaro e Lula, detectado por uma pesquisa amplamente divulgada em todo o Brasil. Compreendo a desconfiança. Como os amigos no Facebook e os grupos de WhatsApp não confirmam a tese da migração, mais fácil concluir que ela não existe.
De fato, essa realidade é mais palpável em determinadas regiões e segmentos. O Nordeste, por exemplo. Se ex-eleitores de Lula não tivessem votado em Jair Bolsonaro em 2018, o resultado teria sido outro. Agora, a direção se inverte, porque não há coerência ideológica em boa parte das opções eleitorais dos brasileiros. Vota-se em primeiro lugar com a emoção, no caso, uma emoção negativa. É o “fora esse” ou o “fora aquele” que determina a escolha. Bolsonaro venceu a eleição graças ao anti-petismo e ao anti-Lulismo. Tanto sabe disso que, agora, acuado pelas denúncias envolvendo um contrato para compra de vacinas, usou a seguinte frase para se defender: “O que vocês querem? A volta daquela cambada?”.
Lula, por sua vez, se posiciona como o anti-Bolsonaro, alimentando, da mesma forma, o voto pela negação. Ambos são extremos do mesmíssimo eixo.
Pode ser que os familiares e os amigos do clube ou do trabalho de alguns leitores não façam parte desse zigue-zague eleitoral. Ou não digam que fazem. Mas ele existe. Para além das confortáveis bolhas que formam a essência das redes sociais e dos aplicativos de troca de mensagens.