Os últimos dias têm sido marcados por doses inéditas de silêncio e conciliação no Palácio do Planalto. Jair Bolsonaro dá sinais de que, finalmente, pode ter ouvido os conselhos daqueles que compreendem a importância e o peso das palavras de um presidente e, justamente por isso, entendem que elas devam ser medidas e pronunciadas somente quando fazem alguma diferença, para o bem.
A saída do destrambelhado Abraham Weintraub do governo foi um sinal. Depois disso, as relações com o STF parecem mais calmas. Isso é bom para o país, que precisa de menos gritaria e de mais conversa em tempos de pandemia.
Mas há um desafio político gigantesco nesse ensaio de Bolsonaro paz e amor. Os 30% do eleitorado que apoiam o presidente são movidos por outro combustível. Essa parcela da população, a tropa de choque bolsonarista, odeia o Supremo, o Congresso, a mídia, a esquerda (todos os que não são bolsonaristas), o Sérgio Moro, o Lula e os médicos que não receitam cloroquina.
A identidade bolsonarista foi construída sobre o antagonismo, o conflito, a paranoia e a bravata. Se mexer nessa fórmula, o presidente fará, sem dúvida, um governo melhor para o Brasil. Mas corre o risco de, em 2022, ficar falando sozinho. É por isso que, por enquanto, ainda duvido da possibilidade de uma mudança radical na postura do “mito”. Ele virou refém da sua própria armadilha.