As fotos foram tiradas na quinta-feira (30), em frente à sede do Comando Militar do Sul, Centro de Porto Alegre. Dentro do prédio, Jair Bolsonaro assistia, ao lado do vice, Hamilton Mourão, à passagem de bastão entre os generais gaúchos Antonio Miotto, o que saía, e Valério Stumpf, o que entrava. Do lado de fora, um grupo de apoiadores do presidente empunhava bandeiras e bradava gritos de louvor ao homem chamado de “mito”. Destacado para a cobertura, o fotógrafo de GaúchaZH Jefferson Botega procurava com sua lentes imagens que traduzissem o momento. Mesmo sem saber exatamente o que acontecia lá dentro, encontrou.
Não foi a primeira vez que Mourão e Bolsonaro estiveram juntos em uma cerimônia do Comando Militar do Sul. Em janeiro de 2016, uma multidão lotava as arquibancadas do 3º Regimento de Cavalaria de Guarda, no bairro Partenon. Naquele dia, era o porto-alegrense Mourão quem passava o comando. Havia sido afastado pela então presidente Dilma Rousseff depois de bater de frente com a cúpula petista ao analisar, publicamente, durante uma palestra no CPOR, cenários que incluíam a renúncia ou o impeachment da chefe de governo. Foi o primeiro militar graduado a falar abertamente sobre o assunto, o que lhe rendeu, ao mesmo tempo, contrariedade e prestígio em segmentos opostos da Nação.
Justamente por isso, a cerimônia na qual passou o comando ao general Edson Pujol, mais de quatro anos atrás, foi tão prestigiada. Era, mais do que tudo, um desagravo. Mas ninguém, nem mesmo os generais, despertou tanta atenção naquele fim de tarde de verão quanto o então deputado federal Jair Bolsonaro, um ex-capitão que, de terno e gravata, disparava ininterruptamente munição pesada contra o PT no Congresso. Sua chegada ao regimento foi digna de um popstar – impossível contar os abraços e os apertos de mão. Era o prenúncio, ainda embrionário, de um fenômeno que ganharia contornos definitivos com a vitória nas eleições presidenciais, dois anos e nove meses depois, formando a chapa com vice Mourão.
A nova visita de Bolsonaro e Mourão ao Comando Militar do Sul, durante a semana, foi diferente. Em vez da multidão, um lista reduzida e seleta de autoridades acompanhou a cerimônia fechada, imposição da pandemia e da necessidade de distanciamento social respeitado pelos militares. Na chegada, depois da continência, Bolsonaro tomou a iniciativa de uma aperto de mão, que foi negado pelos militares. O presidente recebeu, de volta, um cumprimento mais distante, de cotovelo, precaução recomendada também pelos infectologistas.