Nem chegamos aos cinco meses de governo e muitos dos entusiasmados apoiadores de Jair Bolsonaro durante a campanha começaram a mudar de opinião. De liberais a religiosos, passando por setores das Forças Armadas, as ameaças e os efetivos desembarques aumentaram nos últimos dias. Fora o fogo amigo, dentro do governo, que faz mais vítimas do que a combalida oposição.
É estranho ver gente que há poucos meses foi às ruas e compartilhou discursos inflamados nos grupos de WhatsApp dirigindo agora críticas a um presidente que não mudou desde a campanha. Bolsonaro continua o mesmo, dizendo exatamente as mesmas coisas que dizia em outubro de 2018. Por isso, criticá-lo agora e da forma como tantos apoiadores começaram a fazer é, além de irresponsabilidade, uma covardia .
Todos os elementos do governo Bolsonaro estavam lá, na campanha. Flexibilização das armas, pauta dos costumes, presença militar, Olavo de Carvalho, filhos destrambelhados, viés paranoico, um vice com mais desenvoltura do que o presidente, Reforma da Previdência, apoio a Trump, briga com a mídia e Twitter, entre outros. O que teria inspirado, então, a mudança? Tenho uma resposta. Grande parte dos então entusiasmados apoiadores de Bolsonaro queria apenas acabar com o PT. E quando, lá atrás, alguém dizia que votar apenas inspirado pelo “contra” era pouco para um país que precisa de pontes e de consensos, recebia imediatamente o rótulo de comunista e de petralha.
Quem perdeu a eleição não tem o direito de boicotar. Deve aceitar democraticamente a derrota e trabalhar pelo país. Já quem ajudou a eleger Bolsonaro tem um compromisso com o governo e com o país que não se esgota em cinco meses. No mínimo, é preciso esperar pela metade do mandato. Mudar de lado tão rapidamente é injustificável.