Ouço vários colegas reclamando do presidente : “Ele pega no pé dos jornalistas e da imprensa”. Bolsonaro mantém sim uma relação tensa com a mídia. Em alguns pontos, porém, tem suas razões. Por exemplo, quando critica a ênfase dada aos fatos negativos nas notícias. Concordo com ele e tento, dentro do possível, evitar essa lógica ultrapassada que ainda seduz tanta gente boa por aí.
Em outros pontos, Bolsonaro exagera, porque tem um perfil paranoico. Mas, é sempre bom frisar, estamos aqui falando de opiniões e não de verdades absolutas. Cada um tem seu jeito de ver as coisas e isso é lindo. O que é injusto quando se fala do presidente é dizer que ele bate mais na mídia do que os outros. Não é verdade. Nos meus agora mais de 25 anos de profissão, foram raras as vezes em que governantes não estabeleceram a imprensa como alvo. E esse é justamente um dos maiores méritos do jornalismo.
Falando das exceções, José Sarney foi uma delas. Jamais processou ou bateu publicamente em jornalistas ou veículos. Quase todos os demais, sejam prefeitos, governadores ou presidentes, tiveram, em algum momento e em alguma medida, posturas semelhantes de desqualificar o mensageiro em vez de se debruçar sobre a mensagem.
Aos jornalistas cabe separar o joio do trigo. Entender o que é manobra diversionista e o que faz sentido nas críticas que recebemos. Tenho uma visão clara sobre essa complexa relação entre jornalismo e poder. O poder pode e deve fazer oposição ao jornalismo. Já o jornalismo deve, sempre, fazer jornalismo.