Mesmo em férias, Sergio Moro ainda é um juiz. Por isso, não poderia ter aceito o convite para ocupar um cargo político.
Ao questionar a decisão do magistrado mais famoso do país e abrir uma investigação, o Conselho Nacional de Justiça nada mais fez do que a sua obrigação. O CNJ não é petista. Nem eu.
Cegos pela emoção, boa parte dos apoiadores de Bolsonaro e dos apaixonados pelo juiz Moro sucumbiram ao maniqueísmo, o que é ruim e perigoso para o país. Encaram qualquer questionamento como oposição e reagem de forma truculenta. É uma parte, mas uma parte grande.
O fato é que, se o precedente de Moro não for questionado, qualquer juiz brasileiro, amanhã ou depois, poderá exercer atividades incompatíveis com a sua profissão quando estiver em férias. De militância partidária a lobby em favor de A ou B.
Moro deveria ter, antes, se afastado da magistratura. Está recebendo, mesmo em férias, salário de juiz. Mas está trabalhando para um governo, não mais para o Estado.
Pelo que fez contra a corrupção, Sergio Moro já conquistou seu espaço na História do Brasil. É um juiz trabalhador e tecnicamente muito bem preparado. Fez o que parecia impossível: puniu poderosos corruptos – de um ex-presidente da República ao dono da maior empreiteira do Brasil. Mas isso não o transforma em intocável. Moro colecionou inimizades no Congresso e no próprio Judiciário, inclusive no STF.
Comecei minha carreira profissional há 25 anos, trabalhando com o grande jornalista político José Barrionuevo. Em momentos específicos e parecidos com esse, ele costumava dizer: "Ovelha não é pra mato".