Anunciado como ministro da Justiça e da Segurança Pública, um dos "superministérios" do governo de Jair Bolsonaro (PSL) a partir de 2019, o juiz federal Sergio Moro concedeu entrevista ao Fantástico, da TV Globo, veiculada neste domingo (11).
À jornalista Poliana Abritta, o futuro ministro reafirmou que não pretende ser candidato à presidente, disse que não se considera um político, analisou as expectativas para a nova função, comentou críticas sobre imparcialidade em sua atuação e defendeu o novo chefe quando questionado sobre possíveis perdas de direitos de minorias sob o governo de Bolsonaro:
— Eu acompanhei todo o processo eleitoral e eu nunca vi, da parte do senhor presidente eleito, uma proposta de cunho discriminatório em relação a essas minorias. Eu não imagino de qualquer forma que essas minorias estejam ameaçadas (...) Nada vai mudar.
Ainda que nem tenha assumido como ministro, Sergio Moro vê seu nome ser alvo de especulações sobre uma possível candidatura à Presidência em 2022, principalmente por conta de Bolsonaro ter se posicionado contrário à reeleição. Na entrevista, Moro voltou a afirmar que não vai se candidatar ao cargo máximo do executivo e reiterou que se considera um "técnico", mas acabou cometendo ato falho na resposta à apresentadora:
— Estou te falando aqui: não vou ser (candidato à Presidente). Eu não sou um político que minto. Desculpe, com todo respeito aos políticos, mas (existem) bons e maus políticos. Existem maus políticos que faltam com a verdade. Eu não tô faltando com a verdade – disse, ao responder se cogitava se candidatar em 2022, ao que foi interpelado por Poliana:
— Mas o senhor então é um político do tipo que não mente?
— Não. Eu sou uma pessoa que, na minha perspectiva, está indo assumir um cargo predominantemente técnico. São as duas coisas juntas: não sou nem um político, nem minto. Eu acho que a profissão da política é uma das mais nobres que existe. Você receber a confiança da população, do voto. Às vezes, essa confiança é traída, mas é uma das mais belas profissões. Não tem qualquer demérito nisso. É uma questão de natureza e perfil – concluiu.
Em seguida, o juiz confirmou que a vaga no STF, no entanto, é "uma perspectiva, uma possibilidade que se coloca no futuro, quando surgir uma vaga".
Agenda contra a corrupção
Moro voltou a falar sobre a necessidade de se criar uma agenda contra a corrupção e contra o crime organizado, lutas que "não se encontram ao alcance de um juiz de Curitiba, mas podem estar no alcance de um ministro em Brasília", e revelou que a primeira sondagem para assumir o cargo aconteceu ainda antes da eleição de Bolsonaro:
– Uma semana antes do segundo turno, dia 23 de outubro, eu fui procurado pelo futuro ministro da Economia, o senhor Paulo Guedes, com uma sondagem. Confesso que eu vi essa sondagem e fiquei tentado. Aguardei o encerramento das eleições. E tudo foi decidido, na verdade, no dia 1º de novembro.
Ao ser confrontado com uma frase do ex-ministro do STF Ayres Britto, que disse que a mudança imediata de juiz federal para ministro de governo "comprometeria a separação e independência dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário", Moro disse que "existe essa fantasia de que o ex-presidente Lula (...) teria sido excluído arbitrariamente das eleições por conta do processo criminal, mas o fato que ele está condenado e preso porque cometeu um crime".
— Eu sopesei essas questões (referentes às críticas de parcialidade), também levei em conta. Mas, pelo que eu vejo nas pessoas comuns, que eu encontro por aí, ninguém tem essa sombra de desconfiança.
Sobre questões práticas de segurança, o futuro ministro afirmou que "o Estado tem que ter uma política mais rigorosa em relação a organizações criminosas", baseada em investigação focada nos líderes, prisão dos líderes e confisco do patrimônio da organização. Questionado sobre a proposta do governador eleito do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, de adquirir drones que possam atirar em traficantes com fuzis, o juiz evitou se aprofundar, por não ter conversado diretamente com o candidato eleito, mas afirmou que"não parece razoável que o policial tenha que esperar o criminoso atirar nele com uma metralhadora ou com um fuzil antes que ele possa tomar qualquer providência".
Ainda segundo Moro, a redução da maioridade penal não é uma "posição fechada" do governo, mas algo a "ser discutido"