Passada a eleição, Fernando Haddad voltou a visitar Lula na cadeia, em Curitiba. A coluna da jornalista Mônica Bergamo conta que a conversa mais recente se debruçou sobre Ciro Gomes e o segundo turno. Lula se disse decepcionado com a ausência do pedetista, que não formalizou o apoio ao PT. Então o ex-presidente teria afirmado que, apesar disso, "Ciro é um ser humano que vale a pena". Faltou um adendo: assim como todos os outros.
Há violência embutida na frase de Lula. Ela é sutil, mas clara. Se Ciro vale a pena, existem outros que não valem. Posso até arriscar quais seriam eles na visão de Lula: Bolsonaro? Moro? Temer?
A declaração de Lula seria irreparável se ele tivesse usado, em vez de "ser humano", "político". Ciro é um político que vale a pena". Podemos concordar ou não, mas trata-se de uma opinião sobre qualidades de um ser humano e não sobre o valor da sua humanidade em si.
Talvez em um contexto de menos tensão e violência, a frase de Lula passasse batida. Entendo que, para alguns, a crítica mais pareça implicância. O fato é que, há muito, nossos líderes perderam a noção do impacto das palavras que pronunciam. Não é incomum ver os deputados que se xingam na tribuna, terminada a sessão, tomando cafezinhos juntos. Ou jogadores comendo churrasco depois de brigarem em campo. O torcedor, não. O torcedor é movido unicamente pela paixão. Por isso, é preciso ter cuidado. Muito no governo, mais ainda na oposição.