Hitler gostava de música. Eu também gosto de música. Isso não faz de mim um nazista, nem transforma Hitler em judeu.
Nos últimos dias, critiquei a indicação de Sergio Moro para o Ministério de Bolsonaro. Isso não faz de mim um petista fanático.
No final de semana, escrevi sobre o silêncio dos petistas em relação aos escândalos de corrupção envolvendo o partido. Isso não faz de mim um apoiador incondicional de Bolsonaro.
A regressão à infância intelectual que se abateu sobre o Brasil reduziu a capacidade de compreensão de muita gente boa. Voltamos aos século III, época em que nasceu o Maniqueísmo, filosofia religiosa que divide o mundo entre o bem e o mal.
Apesar disso, no Brasil de 2018, parece só existirem duas possibilidades: ou você é petista, ou bolsonarista. O debate público foi sequestrado pela gritaria.
Além de preguiçosa, esse tipo de abordagem é tacanha. Colar um rótulo em si mesmo é limitador. Eu não compro pacote fechado e nem aceito venda casada. Me entristece assistir ao esfarelamento do senso crítico de quem engole supostas verdades antes mesmo de questioná-las.
Podemos bem mais do que isso.
Quero continuar sendo capaz de torcer e de trabalhar pelo meu país, sem que precise, para isso, abrir mão de pensar. Errar e acertar faz parte. Preguiça intelectual, não.