O Brasil está em surto. Não é uma opinião. É um fato. Mesmo gente inteligente e estruturada intelectualmente parece ter sido tomada por uma espécie de maldição. Tenho a impressão de que voltamos ao jardim da infância: " É meu", "tu é bobo", "eu quero".
No futuro, surgirão análises rebuscadas para tentar explicar esse fenômeno de loucura coletiva. Hoje, a maioria sequer se dá conta do nível de regressão emocional e cognitiva do país.
Não é de hoje que tensões e ódios vêm se acumulando. Olhando em retrospectiva, identifico um dos motivos. Falta um acerto de contas, um inventário do passado nem tão distante. A ferida não fechou.
Hoje, esquerda e direita - conceitos já ultrapassados em boa parte do mundo - repetem os clichês nos anos 60, a década que não terminou. "Milico ditador" e "vermelho esquerdista" ressurgem como expressões novas. Estavam apenas hibernando.
Precisamos superar 1964. Superar não é esquecer. Justamente o contrário. Superar é abrir documentos e sentir as dores represadas. É sentar e conversar como adultos. Adultos tristes, adultos com raiva, mas adultos.
Os primeiros movimentos do governo e da oposição apontam na direção aposta. O Brasil virou um barril de pólvora. Ninguém ouve ninguém, mas todo mundo grita. O pouco espaço de razão é confundido com covardia.
Não escrevo para me defender, mas sim para atacar. Atacar aquele que considero o nosso maior inimigo hoje: o radicalismo, que tão bem identificamos no outro, mas que não percebemos em nós mesmos.