Fofinho. O filhote indefeso, olhos semicerrados e sorvendo a micro-mamadeira, é uma imagem irresistível. A gente olha para ela e projeta, automaticamente, um baby humano. A história, então, é emocionante.
Menos de uma semana atrás, um bebê-bugio foi abandonado pelo seu bando no Lami, extremo sul de Porto Alegre. Os humanos, ao tomarem conhecimento do fato, exercitaram uma das suas mais lindas qualidades: a solidariedade. Recolheram o animalzinho para um abrigo, promoveram uma bateria de exames e começaram a cuidá-lo, sempre com muito carinho e competência. Só aplausos para essa linda narrativa e que, até agora, tem final feliz. A macaquinha passa bem e, quem sabe, em algum tempo, poderá ser reintroduzida à natureza.
Nas quinta-feiras tenho passado por uma das experiências mais legais e desafiadoras da minha carreira, que é a de participar do Pretinho Básico, da Rádio Atlântida. Imagina entrar em um time que joga junto há vários anos. Apesar dos meus esforços, vira e mexe dou uma bola fora, atropelo o comercial, pergunto a coisa errada na hora errada, me sinto chato.
De certa forma, sou o macaquinho do programa, inclusive porque os guris me cuidam e me ajudam. É incrível como, com o tempo, a gente desaprende a aprender. Mas é só tensionar o músculo atrofiado, que ele vem. Tem aquela dorzinha, mas vem.
Voltemos à selva de pedra. No programa passado, conversamos sobre o bugiozinho. E sobre essa característica humana de transferir para a natureza a lógica dos seus afetos. Não há ética na natureza. Há quem discorde, mas plantas e animais se guiam pela necessidade de sobrevivência e são guiados pela mão mágica da evolução.
O bando de bugios não foi chamado a opinar. Faltaram algumas perguntas: por que abandonaram o filhote? Uma doença? Seria ele uma ruptura no processo de evolução?
Uma ameaça à sobrevivência do bando? Descarto a tese da crueldade. Não faz sentido. Só para os humanos faria. E, mesmo assim, mães não abandonam filhos porque querem.
Quando uma baleia encalha ou quando um pinguim aparece morto na praia, nem sempre a culpa é dos homens. Mas sempre sentimos assim, até porque, cada vez com mais frequência, é.
Me pergunto até que ponto a ética humana deve ser aplicada, integralmente, ao resto da natureza. A nossa espécie é tão maluca que corre o risco de atrapalhar a evolução dos bichos e das plantas até mesmo quando quer ajudar.