Estreia nesta quinta-feira (28) no CineBancários e na Sala Paulo Amorim O Clube das Mulheres de Negócios (2024), filme com o qual a diretora paulista Anna Muylaert participou pela sexta vez do Festival de Gramado — onde recebeu o Prêmio Especial do Júri.
A primeira foi na década de 1980, ainda como crítica de cinema, a anterior havia sido em 2015, abrindo o evento com Que Horas Ela Volta?, e a mais importante foi em 2002, quando Durval Discos ganhou sete prêmios: melhor filme brasileiro pelo júri, pelo público e pela imprensa, direção, roteiro, fotografia e direção de arte.
Quando apresentou O Clube das Mulheres de Negócios no palco do Palácio dos Festivais, Anna disse que é seu filme que mais dialoga com Durval Discos, que tinha um lado A e um lado B, indo da comédia urbana ao suspense policial, passando pelo drama existencialista e roçando no absurdo. O novo título também varia de gênero: pode ser encarado como uma distopia (ou até uma utopia), uma história de humor, um terror, uma crítica sociopolítica, um manifesto ambiental...
Na largada, é uma espécie de "versão gênero" de A Cor da Fúria (1995), filme estadunidense que inverte as relações entre brancos e negros. Na realidade alternativa bolada pela diretora brasileira e pelos coautores do roteiro, Gabriel Domingues e Suzana Pires, o poder é feminino — os Estados Unidos tem uma presidente, Tammy Brown, ouve-se no rádio do carro que está levando dois jornalistas para o tal Clube das Mulheres de Negócios. Eles são encarnados por Luís Miranda e Rafa Vitti — o primeiro usa saia, e o segundo, um cropped que deixa toda sua barriga de fora.
No clube, encontram maridos e namorados submissos ou traídos e são recebidos por personagens arquetípicas. Grace Gianoukas, por exemplo, interpreta uma mulher do agronegócio, Yolanda, que, a certa altura, assedia um dos repórteres, tirando o seio da roupa e pedindo: "Dá uma chupadinha?". Katiuscia Canoro é uma militar, Zarife, que profere palavras de ordem do tipo "Grelo duro!" e "Morte às baleias!".
Há ainda Cesárea (Cristina Pereira), presidente do Clube, e Brasília (Louise Cardoso), sua fiel escudeira; a quatrocentona Norma (Irene Ravache) com seu marido submisso e 20 anos mais moço (André Abujamra); a milionária líder evangélica Bispa Patrícia (Shirley Cruz), a cantora de funk Kika (Polly Marinho), a advogada Fay Smith (Helena Albergaria) e a conquistadora Donatella, papel da octogenária atriz gaúcha Ítala Nandi, que virou notícia nacional por causa da cena de orgia com vários rapazes.
No papel, parece interessante, mas o filme tem uma série de obstáculos. Falta ritmo, o que prejudica o lado cômico. O elenco atua de forma heterogênea demais — é como se cada atriz estivesse no seu próprio mundo. E logo as ações são dominadas pelos mistérios e perigos que envolvem três onças geradas por computação gráfica, levando O Clube das Mulheres de Negócios para o subgênero slasher do terror e deixando espectadores sem entender muito bem o sentido das coisas.
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