A entrevista coletiva com a diretora e o elenco do filme O Clube das Mulheres de Negócios, realizada na manhã deste domingo (11) no 52º Festival de Cinema de Gramado, teve um momento de forte comoção. A atriz Cristina Pereira, 75 anos completados na sexta-feira (9), revelou ter sido estuprada quando tinha 12, a caminho do colégio.
Foi a primeira vez que Cristina, atriz paulista vista em novelas como Elas por Elas (1982), Guerra dos Sexos (1983-1984) e Vereda Tropical (1984-1985) e em filmes como A Vida Invisível (2019) e a trilogia De Pernas pro Ar (2010-2019), falou publicamente sobre esse episódio traumático. A revelação se deu no contexto da discussão, na Sociedade Recreio Gramadense, sobre uma cena do filme dirigido por Anna Muylaert, que se passa em uma realidade alternativa na qual as mulheres é que estão no poder, oprimindo e abusando dos homens.
Na tal cena, a personagem interpretada pela comediante Grace Gianoukas, uma representante do agronegócio, assedia sexualmente um jornalista encarnado por Rafa Vitti. Tira o seio de dentro da roupa e pede: "Dá uma chupadinha?".
Anna, as demais atrizes do filme e o ator Luís Miranda estavam falando sobre como o abuso sexual é "naturalizado", sobre a cultura do estupro. Então, Cristina pegou o microfone.
— Eu fui estuprada quando tinha 12 anos. Já tinha revelado isso para a Anna e agora é a primeira vez que estou falando publicamente. Estava a caminho da escola, um colégio católico. Lembro que cheguei lá com a roupa ainda toda... — interrompeu-se Cristina, já com a voz tremelicando por causa da emoção.
Nesse momento, a diretora e as demais atrizes começaram a chorar, algumas chegaram a soluçar. A imprensa e o público estavam em silêncio, decorrente do choque.
Cristina prosseguiu:
— Toda hora acontece isso, toda hora uma menina de 12 anos é estuprada, porque esses filhos da p* do boi, da bala e da Bíblia não querem que haja educação sexual. Eu não tinha educação sexual nem para saber o que era aquilo.
Ao fim do seu depoimento, suas colegas de trabalho levantaram-se e foram abraçá-la. O jornalista Roger Lerina, mediador do debate, teve a sensibilidade de dizer que a coletiva estava encerrada, mas Luis Miranda e Anna Muylaert ainda fizeram declarações finais, enquanto Grace Gianoukas consolava Shirley Cruz, que seguia vertendo lágrimas.