Disponível a partir desta sexta-feira (2) no Disney+, Planeta dos Macacos: O Reinado (Kingdom of the Planet of the Apes, 2024) é o quarto título de uma das melhores franquias cinematográficas — ou o primeiro de uma nova trilogia.
A Origem (2011), O Confronto (2014) e A Guerra (2017) revitalizaram, com sucesso de público e de crítica, a clássica saga de ficção científica dos anos 1960 e 1970 (todos os filmes, tanto os do passado quanto os do presente, estão no menu da mesma plataforma).
Vale relembrar: na distopia apresentada pelo cineasta Franklin J. Schaffner em O Planeta dos Macacos (1968), adaptação do romance homônimo escrito pelo francês Pierre Boulle, um astronauta (Charlton Heston) viaja até o futuro e descobre que a Terra foi devastada por uma guerra nuclear. Como uma crítica ao comportamento presunçoso e beligerante dos seres humanos, estes agora estão sob jugo de macacos inteligentes e falantes.
Na atualização, o contexto não era mais o da Guerra Fria, mas o da discussão sobre os limites da ciência e a ganância da indústria farmacêutica. A Origem reinventou o argumento do quarto dos cinco filmes da cinessérie anterior, A Conquista do Planeta dos Macacos (1972), que mostra o início da revolta comandada pelo chimpanzé César. No filme dirigido por Rupert Wyatt, César (personagem que combina as emoções e os movimentos do ator Andy Serkis com um trabalho magistral de computação gráfica) é um bebê salvo do sacrifício por um cientista que testa em primatas uma droga para combater a doença de Alzheimer. Após um incidente com o vizinho do tal gênio da ciência, o símio intelectualmente bombado é confinado em um abrigo cruel, ambiente em que organiza sua feroz guerrilha. As cenas de ação não obscurecem o chamamento à reflexão. A animosidade entre homem e macaco e as próprias relações de poder e subserviência entre chimpanzés, gorilas e orangotangos espelham as tensões étnicas, políticas e religiosas que convulsionam o mundo.
Dirigido por Matt Reeves, O Confronto se passa 10 anos após A Origem. Um vírus criado em laboratório por meio de experiências com macacos dizimou quase toda a humanidade — e o restante decidiu que era uma boa ideia matar uns aos outros em vez de buscar uma solução. Enquanto isso, os símios, modificados geneticamente e imunes à infecção, são liderados por César até uma reserva florestal na Califórnia. Lá, começam a erguer os pilares de uma nova civilização, baseada na união e no respeito mútuo. Só que esse equilíbrio tem prazo de validade, estipulado pelo reaparecimento de um grupo de humanos. O bonobo Koba, que havia sido cobaia no passado, tenta estimular César a exterminar os intrusos. Merecemos uma segunda chance ou chegou a vez de uma outra raça tomar conta do planeta?
Reeves também assinou A Guerra, que começa mostrando uma batalha na selva entre macacos e humanos. Após sofrer grandes perdas, os símios buscam um novo refúgio, enquanto César parte atrás de vingança contra o coronel McCullough, personagem interpretado com gosto por Woody Harrelson, que aqui faz citações escancaradas ao coronel Kurtz vivido por Marlon Brando no clássico Apocalypse Now (1979). Em sua jornada no meio da neve, César é acompanhado, contra sua vontade, por companheiros como o sábio orangotango Maurice e o gorila Luca, além de topar no meio do caminho com dois novos personagens: o simpático chimpanzé Bad Ape e uma garotinha silenciosa. A guerra do título não faz referência apenas ao conflito bélico. Alude também à turbulência que existe entre os macacos, divididos entre o instinto animal e a índole racional.
Com direção de Wes Ball, O Reinado está ambientado 300 anos após a morte de César. Para muitos, como o herói da trama, o jovem e corajoso chimpanzé Noa (um nome que condiciona destino), ele é só uma lenda. Alguns, como o orangotango Raka, buscam preservar a História, procurando disseminar a existência e os ensinamentos do antigo líder. E há quem deturpe as palavras de César, subvertendo sua figura para usá-la como instrumento de poder: é o caso do bonobo Proximus, que prega a união dos macacos em causa própria.
Como notórios populistas, o tirano tem um discurso que aposta no medo. E que faz sentido.
Alerta de SPOILERS.
O déspota escraviza clãs de macacos porque precisa de um grande contingente na cidadela que montou à beira-mar — uma citação visual ao emblemático final do filme de 1968. O objetivo de Proximus é explodir a porta de um bunker militar, onde o armamento disponível oferece segurança diante dos humanos. Que, como prova a personagem Nova (outra referência à saga original), mentem, são traiçoeiros, seguem achando que estão em primeiro lugar no reino animal. Aliás, muitos dos desastres ambientais acontecem porque o homem tentou moldar a natureza, em vez de conviver com ela; impôs suas vontades ao verde e à água, em vez de respeitá-los e aprender com eles.