Por coincidência, enquanto na Serra está ocorrendo o 52º Festival de Cinema de Gramado, nesta quinta-feira (15) estreia em Porto Alegre um filme que conquistou três Kikitos na edição do ano passado. Mais Pesado É o Céu ganhou nas categorias de direção (o cearense Petrus Cariry), fotografia (do próprio cineasta) e montagem (assinada por Petrus com Firmino Holanda). Houve ainda o Prêmio Especial do Júri para a atriz Ana Luiza Rios. Entra em cartaz no CineBancários, com sessões às 19h.
Petrus Cariry é o mesmo realizador de O Grão (2007), Mãe e Filha (2011) e A Praia do Fim do Mundo (2021). A epígrafe escolhida pelo diretor serve de alerta para o clima opressivo e sufocante (mas jamais acelerado) da narrativa: "Vivemos submersos no fundo de um oceano de ar", do físico italiano Evangelista Torricelli (1608-1647).
Estamos no sertão do Ceará, nas proximidades da velha Jaguaribara, município que, na virada dos anos 1990 para os 2000, foi abandonado para a construção de uma represa. Às margens do açude Castanhão, Teresa (Ana Luiza Rios) resolve acolher um bebê que está chorando dentro de um barco. Sua trajetória vai se cruzar com a de Antonio (Matheus Nachtergaele, em outra grande atuação do ganhador do Troféu Oscarito em 2024), que vive de pequenos e insalubres bicos, como limpar a bosta de um caminhão transportador de vacas. "Na hora H, a gente faz o que tem de fazer e não fica choramingando", ele diz a certa altura.
Esses dois personagens compartilham lembranças boas da cidade inundada, talvez o único combustível emocional para enfrentar a dureza da vida. Que é mais cruel com Teresa, ameaçada, agredida e humilhada pelos caminhoneiros a quem atende como prostituta de beira de estrada. Por falar nisso, entende-se mostrar, sem edulcoração, os perigos aos quais ela acaba se sujeitando, mas acho que o filme exagera na exposição do seu sofrimento.
Por outro lado, a direção de fotografia é belíssima. Não foi à toa que Nachtergaele, no palco do Palácio dos Festivais, em 2023, disse que o cineasta é "um poeta a cada plano". A trilha sonora composta por João Victor Barroso emoldura com gravidade e imponência os quadros em movimento pintados por Petrus.
"O cenário nordestino também pode trazer uma experiência de vida muito intensa para as personagens e influenciar seus comportamentos e perspectivas, por conta das suas crenças e hábitos em meio a tantos desafios que precisam enfrentar", comenta o diretor no material de divulgação. "Essa vivência particular molda as relações afetivas dos protagonistas e acrescenta camadas de complexidade emocional à história. Temos um contraste entre a paisagem e as emoções, sobretudo quando contrapomos essas imagens de beleza nua da paisagem às angústias e solidões enfrentadas pelo casal.”
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