A Temperatura Máxima deste domingo (7), às 12h45min, na RBS TV, exibe Frozen II (2019), 13ª maior bilheteria de todos os tempos, com US$ 1,45 bilhão. Somando com a arrecadação de Frozen (2013), a renda de US$ 2,73 bilhões torna Elsa a mais rica princesa da Disney. Bem mais abaixo está Bela, que alcançou US$ 1,68 bilhão com o desenho animado de 1991 e versão com atores de A Bela e a Fera, lançada em 2017.
Em Frozen II, os diretores Chris Buck e Jennifer Lee (os mesmos do primeiro filme) tinham um desafio difícil. Como suplantar ou pelo menos igualar a obra que se tornou um ícone cultural ao atualizar as heroínas Disney à luz do empoderamento feminino (Elsa é uma princesa que não precisa de um príncipe) e, pode-se dizer, da diversidade sexual (a mesma personagem, vale lembrar, foi adotada pela comunidade LGBT+)? Seria possível repetir as conquistas de Frozen, que venceu o Oscar nas categorias de melhor longa-metragem de animação e canção (Let It Go, conhecida no Brasil como Livre Estou, hino em lares de família e em desfiles contra o preconceito)?
Frozen II só superou o original no sucesso comercial. Sequer concorreu ao Oscar de melhor animação. Foi preterido, naquela temporada, por Toy Story 4 (que acabou premiado pela Academia de Hollywood), Como Treinar seu Dragão 3, Klaus, Link Perdido e Perdi meu Corpo. Mas o filme tem muitas virtudes. Para começar, não comete o pecado de muitas continuações, aquelas que simplesmente recontam a história original. Aliás, até faz isso, mas de maneira muito divertida e mais para o meio do filme, quando Olaf dispara uma versão resumidíssima dos eventos anteriores – o boneco de neve, que atravessa uma espécie de crise existencial típica da puberdade, é o humorista por excelência da trama (não por acaso, seu dublador na versão em português é Fábio Porchat).
Essa trama começa com um mergulho no passado. Estamos de volta à infância de Elsa e de sua irmã, Anna, que ouvem seu pai contar uma história de quando era príncipe de Arendelle. Ele relembra uma visita à floresta dos elementos (água, terra, ar e fogo) que acabou em tragédia: um conflito entre uma tribo nativa, os Northuldra, e o povo de Arendelle.
No presente, a jovem Elsa passa a escutar uma voz misteriosa, um chamado. Na companhia de Anna, Kristoff, Olaf e a rena Sven, ela parte em uma jornada rumo às míticas terras de Ahtohallan, onde aprenderá mais sobre seus poderes congelantes e descobrirá um segredo de sua família.
O roteiro de Frozen II aborda mais temas do que o primeiro. As questões vão da importância do contato e da preservação da natureza a uma autocrítica sobre o colonialismo, da busca por um equilíbrio espiritual ao complexo processo de convivência: às vezes, como Elsa, precisamos esconder quem nós somos de verdade; em outras, como Anna, nos preocupamos tanto com quem amamos, que acabamos sendo superprotetores, freando seu desenvolvimento.
Sente-se a ausência de novos personagens que sejam realmente marcantes, como aconteceu, por exemplo, a cada segmento da franquia Toy Story, e as músicas, no geral, são menos inspiradas, mas há duas grandes exceções. Uma delas é a balada rock oitentista cantada por Kristoff, que, em cena, vira um astro de videoclipe daquela década. A segunda, com poder de sobra para redimir Frozen II na memória afetiva, é a canção principal, indicada ao Oscar: Into the Unknown, “rumo ao desconhecido” (traduzida no Brasil, por motivos de fonética, como Minha Intuição).
De melodia galopante, especialmente na versão dos créditos finais, pela banda Panic! at the Disco, sua letra ilustra a conversa que Elsa trava com a tal voz misteriosa: “Eu te escuto / Mas não vou / Não, não me chame / Já sei quem sou”. Permite interpretações e identificações variadas: com versos como “tenho medo do que arriscarei se te seguir”, roça a fronteira histórica que a protagonista acaba não atravessando: a de se tornar a primeira princesa lésbica da Disney.
Seja como for, o importante é que Frozen II reforça a mensagem de independência e união às meninas: elas não necessitam de príncipes encantados para serem felizes e podem contar umas com as outras para enfrentar desafios. E a canção, que é um grude (minhas filhas adoravam cantar, buscando imitar os agudos do vocalista Brendon Urie no refrão em inglês), convida o público (infantil ou não) à introspecção, algo que costuma ficar em segundo plano nestes tempos de tanta exposição.