Já falei aqui: o menu do Amazon Prime Video não é muito amigável e às vezes esconde tesouros disponíveis na plataforma de streaming.
Para ajudar, fiz uma lista com alguns dos melhores filmes que apareceram por lá recentemente.
Tem desde um dos tantos clássicos de Billy Wilder (1906-2002) até o ganhador da categoria de roteiro adaptado no Oscar 2024.
1) Testemunha de Acusação (1957)
De Billy Wilder. Baseado na peça homônima de Agatha Christie, a Dama do Crime, gira em torno do assassinato de uma viúva rica. O amante dela (Tyrone Power), casado, está sendo julgado, e sua única esperança é o testemunho da esposa (Marlene Dietrich). Prepare-se para reviravoltas. Recebeu seis indicações ao Oscar, incluindo melhor filme, diretor e ator (Charles Laughton, que faz o advogado de defesa).
2) Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977)
De Woody Allen. Annie Hall (no título original) é um dos filmes mais cultuados do cineasta. Estrelado pelo próprio Woody Allen e por Diane Keaton, acompanha o relacionamento entre um humorista judeu divorciado e cheio de manias e fobias e uma cantora em início de carreira com temperamento instável. Ganhou as estatuetas de melhor longa, direção, atriz e roteiro original — Allen foi indicado a melhor ator, mas o prêmio ficou com Richard Dreyfuss, por A Garota do Adeus.
3) 1984 (1984)
De Michael Radford. Em tempos de BBB, vale muito ver uma adaptação cinematográfica do livro de onde surgiu a alegoria social do Big Brother. O escritor indiano radicado na Inglaterra George Orwell publicou 1984 em 1948, logo após a Segunda Guerra Mundial e inspirado pela ascensão de líderes totalitários como Hitler e Stalin, imaginando uma sociedade devastada em que o "grande irmão" exercia o controle pleno da população, com vigília absoluta, levando-a a um estado quase pós-humano, de supressão de emoções e sentimentos. Coube a outro indiano radicado na Inglaterra, Michael Radford (o mesmo de O Carteiro e o Poeta), dirigir este filme.
Na trama, o que restou do planeta está dividido em três territórios, Oceania, Eurásia e Lestásia. A guerra pelas regiões neutras persiste, ao mesmo tempo em que há as insurgências internas. O protagonista Winston Smith (John Hurt, em atuação memorável) vive de certo modo indiferente a tudo isso, trabalhando como operário do Ministério da Verdade da Oceania e deixando-se ser visto em toda a sua intimidade. Até que o amor — por Julia (Suzanna Hamilton) —, proibido por lei, funcionará como a faísca de sua rebeldia. 1984 traz a última atuação de Richard Burton, no papel do cruel agente O'Brien, uma soturna direção de fotografia assinada pelo mestre Roger Deakins e músicas do duo eletrônico Eurythmics na trilha sonora.
4) Será que Ele É? (1997)
De Frank Oz. Deve ser um exercício de arqueologia assistir a esta comédia dos tempos em que personagens gays ainda não eram tão comuns — diferentemente dos preconceitos e estereótipos. Tenho curiosidade de saber o quão defasadas podem ter ficado algumas piadas. O filme mostra como a vida de um pacato professor (Kevin Kline) de uma cidadezinha dos EUA é modificada depois que um de seus ex-alunos ganha o Oscar de melhor ator. No discurso, agradece ao seu ex-professor, que, segundo ele, é gay. Como o protagonista está de casamento com data marcada (Joan Cusack, que faz a noiva, concorreu ao Oscar de atriz coadjuvante), a situação fica complicada. Para piorar, um repórter (Tom Selleck) chega ao lugar buscando uma boa história, mesmo que ela não seja muito verdadeira.
5) Men: Faces do Medo (2022)
De Alex Garland. Mesmo que se justifique na trama, o genérico subtítulo brasileiro é desnecessário neste terror sobre patriarcado e masculinidade tóxica. A ótima atriz Jessie Buckley interpreta Harper, uma mulher que alugou uma casa de campo para tentar se recuperar de um trauma ligado a James (Paapa Essiedu), o marido de quem ela queria se divorciar. No verdejante interior inglês (linda e sinistramente fotografado por Rob Hardy), ela acha que vai encontrar um pouco de paz. Seu primeiro ato será colher e comer uma maçã, à la Eva. Como se fosse um castigo por esse "pecado", a partir de então a personagem passa a ser fustigada não apenas por suas lembranças, mas também por uma série de homens — todos, em um lance genial de Men, encarnados pelo mesmo ator, Rory Kinnear.
6) Ficção Americana (2023)
De Cord Jefferson. Vencedora do Oscar de roteiro adaptado (a partir do romance Erasure, de Percival Everett) e indicado nas categorias de melhor filme, ator (Jeffrey Wright), ator coadjuvante (Sterling K. Brown) e música original, esta comédia dramática aborda as ideias estereotipadas e as práticas segregacionistas às quais personagens e autores negros dos EUA estão sujeitos na literatura, no cinema, nas séries. Escrevi sobre o título nesta coluna aqui.
7) Sem Ar (2023)
De Maximilian Erlenwein. É uma espécie de cruza entre A Queda (2022), sobre duas amigas que resolvem escalar uma torre com 600 metros de altura, e o documentário Sem Fôlego (2023), sobre o mundo do mergulho livre. Neste filme, o passeio de duas irmãs mergulhadoras (Sophie Lowe e Louisa Krause) se transforma em uma luta pela sobrevivência. Tem boas atuações e bons momentos de tensão.