A Tela Quente desta segunda-feira (17), na RBS TV, vai exibir o maior sucesso comercial entre os filmes de super-herói: Vingadores: Ultimato (2019), dono da segunda maior bilheteria de todos os tempos, com US$ 2,79 bilhões arrecadados e inédito na televisão aberta. É a aventura que fechou uma grande história que a Marvel vinha contando havia mais de 10 anos, desde que Homem de Ferro (2008) dera início a seu universo cinematográfico.
Diferentemente dos 21 longas-metragens anteriores, que funcionavam de forma independente e até serviam de porta de entrada, Ultimato só existiu para amarrar tudo o que se viu antes — é, portanto, uma porta de saída. Não à toa, o título original é Endgame, fim de jogo. Os irmãos diretores Anthony Russo e Joe Russo refletem a tradição dos gibis de super-herói, que interligam suas histórias e seus personagens até culminar em um grande evento, um desfecho épico que possibilitará um recomeço.
Dito isso, também convém ao espectador desavisado esquecer o apreço à lógica. Trata-se de um pré-requisito básico para curtir filmes que incluem um supersoldado descongelado, um deus do trovão, um guaxinim falante e belicoso, um monstro verde à la Jekyll & Hyde e um humorista capaz de ficar do tamanho de uma formiga ou de virar um gigante. Mas em Ultimato há mais exigências quanto à suspensão da descrença. Afinal, estamos falando de uma aventura em que nossos heróis, depois que o vilão Thanos (Josh Brolin) estalou os dedos de sua manopla para desintegrar metade do universo — em Vingadores: Guerra Infinita (2018) —, vão buscar algum jeito de reverter o genocídio. O que significa voltar ao passado e evitar que o Titã Louco obtenha as seis Joias do Infinito: do espaço, da mente, da alma, da realidade, do tempo e do poder.
Essa jornada ao "campo quântico" é tratada entre o cômico — em exercícios de metalinguagem, os personagens satirizam a trilogia De Volta para o Futuro (1985-1990) e outros filmes do tipo — e o pseudocientífico: Homem de Ferro (Robert Downey Jr.), Homem-Formiga (Paul Rudd) e o agora inteligente e ainda mais divertido Hulk (Mark Ruffalo) disparam conceitos (como "o passado é o futuro e o futuro é o passado") em alta velocidade para que o público nem consiga pensar a respeito. A viagem no tempo empreendida pelos heróis permite revisitar, sob uma nova perspectiva, cenas emblemáticas de Vingadores (2012), Capitão América: Soldado Invernal (2014) e Guardiões da Galáxia (2014), por exemplo. É de se pensar: a Marvel é tão genial que já havia, anos atrás, planejado seu futuro? Ou é tão genial porque soube reinventar seu passado?
O sucesso comercial de Vingadores: Ultimato não esconde seus problemas. A trilha sonora composta por Alan Silvestri, por exemplo, é intrusiva e onipresente. Melosa demais, a música tenta guiar a emoção do espectador. É um alívio quando tocam pérolas do cancioneiro anglo-americano dos anos 1960 e 1970, como a doce melancolia de Dear Mr. Fantasy, do Traffic, ou a irresistível empolgação de Come and Get Your Love, do Redbone — celebrizada pela dancinha de Peter Quill (Chris Pratt). Falta também a coesão dramática de Guerra Infinita: o filme segue à risca a fórmula Marvel, alternando-se entre a gravidade (vide o início sombrio e pessimista, incluindo um ato brutal cometido pelo Thor de Chris Hemsworth) e a zombaria (com direito a piadas sobre a bunda do Capitão América interpretado por Chris Evans).
Mas a batalha final é um dos grandes momentos de todas as aventuras do gênero. Nunca houve tantos super-heróis reunidos no mesmo cenário gerado por computação gráfica. Dá vontade de parar as cenas quadro a quadro para localizar, identificar e contar cada um.
Também é bacana como Ultimato busca a diversidade. Mulheres e negros têm protagonismo, desde a superpoderosa da Capitã Marvel (Brie Larson) à nobre e corajosa Viúva Negra (Scarlett Johansson), desde a comicidade do Máquina de Combate (Don Cheadle) à ascensão do Falcão (Anthony Mackie). E, no combate contra as forças de Thanos, é arregimentado um batalhão feminino, com Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen), Gamora (Zoë Saldaña), Valquíria (Tessa Thompson), Vespa (Evangeline Lilly), Shuri (Letitia Wright) e Mantis (Pom Klementieff), entre outras heroínas, para juntar-se à Capitã Marvel.
— Ela não está sozinha — diz Okoye (Danai Gurira), integrante da Dora Milaje, a guarda real do reino africano de Wakanda.
Por fim, para quem acompanhou desde o início essa aventura, a Marvel soube dar um fecho emocionante. A hora do adeus é linda e coerente para alguns personagens — evitarei spoilers, mas há uma cena belíssima que envolve a dança de um casal separado pelo tempo. E, agora contrariando a regra, Ultimato não tem cenas pós-créditos. Termina com uma homenagem ao elenco principal, com os atores assinando sua aparição nos créditos. É como se fossem autógrafos em um gibi de super-herói.