A plataforma de streaming Belas Artes à La Carte acaba de resgatar do limbo digital dois tesouros do cinema dos anos 1990: Exótica (1994) e O Doce Amanhã (1997). Ambos os filmes foram dirigidos por Atom Egoyan e trazem no elenco Sarah Polley, que depois se tornaria cineasta — ganhou o Oscar de roteiro adaptado por Entre Mulheres (2022), concorreu na mesma categoria por Longe Dela (2006) e mereceu prêmios pelo documentário Histórias que Contamos (2012).
Egípcio naturalizado canadense, Egoyan, hoje com 62 anos, era um nome de ponta naquela década. Por O Doce Amanhã, recebeu o Grande Prêmio do Júri e o troféu da crítica no Festival de Cannes e disputou o Oscar de melhor direção e de roteiro adaptado (baseado no romance homônimo escrito por Russell Banks e no conto de fadas O Flautista de Hamelin, dos Irmãos Grimm). Ainda na mostra francesa, conquistou a distinção concedida pelos críticos com Exótica e voltou a competir com O Fio da Inocência (1999). Entre suas obras mais famosas, também estão Ararat (2002) e Verdade Nua (2005).
Exótica é o nome da boate de strip-tease localizada em Toronto e frequentada por uma série de personagens: o DJ Eric (Elias Koteas), sua ex-namorada Christina (Mia Kirshner, que mais tarde estrelaria um momento antológico da série 24 Horas), dançarina que fascina os clientes com seu ar colegial, e o auditor fiscal Francis (Bruce Greenwood), que demostra grande obsessão pela garota.
O que em princípio se apresenta como um círculo passional de desejo, ciúme e perversão — somado à enigmática relação de Francis com sua sobrinha adolescente (papel de Sarah Polley) — aos poucos desvia por caminho não menos traumático, que coloca esses personagens diante de uma tragédia ocorrida anos antes. Aí, Egoyan demonstra habilidade para manipular o ritmo dos flashbacks que costuram o enredo.
O Doce Amanhã tem algumas similaridades com Exótica, como a ciranda de personagens, o uso de flashbacks e a configuração da tragédia como uma metáfora da inescapável corrupção da infância e da juventude pelo mundo adulto.
Um acidente com ônibus escolar mata a maioria das crianças de pequena cidade da Colúmbia Britânica, no Canadá, e provoca uma crise entre os cidadãos. Contratado para processar a empresa responsável, o advogado Mitchell Stephens (interpretado por Ian Holm, da trilogia O Senhor dos Anéis) também é motivado pelo remorso que sente por sua relação tumultuada com a filha. Sarah Polley encarna uma das sobreviventes, Nicole Burnell, 15 anos, paralisada da cintura para baixo em consequência do acidente e perturbada pelo que vinha acontecendo em sua família antes do acidente.