
Asteroid City, o novo filme do diretor Wes Anderson, fez eu quebrar uma regra particular: a de não assistir a trailers.
Parece uma contradição para um crítico de cinema, mas evito trailers porque costumeiramente dão spoilers, tirando o impacto posterior de cenas, diálogos, piadas, sequências de ação etc. Piores são aqueles que simplesmente resumem toda a história, do começo ao quase fim.
Abri a exceção com o trailer de Asteroid City, divulgado nesta quinta-feira (30), porque, embora eu tenha achado o filme anterior de Wes Anderson, A Crônica Francesa (2021), muito bonito, mas também frio e cansativo, ele segue sendo um dos meus cineastas prediletos. E porque de cara fiquei mesmerizado pelo visual do 11º longa-metragem do texano de 53 anos, que já recebeu sete indicações ao Oscar e foi premiado nos festivais de Berlim e de Veneza por títulos como Os Excêntricos Tenenbaums (2001), Moonrise Kingdom (2012) e O Grande Hotel Budapeste (2014).
Aliás, o visual é tão encantador, os planos e as cores são tão deslumbrantes, que nem liguei o som — também para evitar ouvir algum diálogo muito revelador, ainda que, aparentemente, o trailer de Asteroid City seja "apenas" uma colagem desordenada das pinturas em movimento que Wes Anderson realiza na companhia de seus habituais colaboradores: o diretor de fotografia Robert E. Yeoman, o designer de produção Adam Stockhausen e a figurinista Milena Cannonero.
Juntos, eles desenvolveram o conceito da casa de bonecas. Seus filmes criam um mundo à parte, no qual Anderson pode brincar com suas obsessões temáticas e estilísticas. A câmera, por exemplo, costuma ficar fixa, só se movimentando quando for para passar de um ambiente ao outro sem que haja corte. Volta e meia, se afasta para flagrar os personagens de longe, como se fossem miniaturas.

Os atores, por sua vez, estão geralmente centralizados, o que contribui para a simetria buscada em cada cena — tudo é milimetricamente alinhado, da cenografia e da paleta de cores às posições do elenco —, e não raro olham diretamente para o espectador, o que contribui para a ligação emocional. Ainda que por vezes guardem mágoas ou traumas, são tipos cartunescos e extravagantes, condição ressaltada pelo uso de "uniformes": eles praticamente usam sempre as mesmas roupas durante toda a trama.
Anderson gosta de povoar suas casinhas com bonecas vistosas. Convoca sempre um time de estrelas — e eis está outro apelo irresistível do trailer de Asteroid City: identificar todos os rostos do elenco. Os créditos fazem desfilar nomes frequentes e nomes novos na filmografia do diretor: Jason Schwartzman, Scarlett Johansson, Jeffrey Wright, Tilda Swinton, Tom Hanks, Sophia Lillis, Bryan Cranston, Edward Norton, Adrien Brody, Liev Schreiber, Hope Davis, Stephen Park, Rupert Friend, Maya Hawke, Steve Carell, Matt Dillon, Hong Chau, Willem Dafoe, Margot Robbie, Tony Revolori, Jake Ryan e Jeff Goldblum. A ausência ilustre é a de Bill Murray, que atuou ou emprestou a voz em nove longas — à época das filmagens, o ator havia testado positivo para covid-19 e precisou abandonar o projeto.
E sobre o que é Asteroid City? Como eu vi o trailer sem som e na versão sem legendas, copio aqui as informações divulgadas pela assessoria de imprensa do estúdio Universal Pictures: "Ambientada por volta de 1955, a comédia romântica aborda a história de uma família, que após o carro quebrar, fica 'presa' em Asteroid City, cidade ficcional dos Estados Unidos onde se comemora o Dia do Asteroide e onde aspectos relacionados ao espaço sideral são levados muito a sério".
A estreia no Brasil está prevista para agosto. Se não houver a tradicional exibição prévia para a imprensa, certo que verei em alguma das primeiras sessões em Porto Alegre.