Um dos fenômenos de popularidade e de ruindade da Netflix está de volta. Estreou na quarta-feira (27) — e é o top 1 na plataforma de streaming nesta quinta — 365 Dias: Hoje (365 Dni: Ten Dzien, 2022), continuação de 365 Dias (2020), filme à beira do pornô que romantizava o sequestro e o abuso sexual. Ambos são dirigidos pelos poloneses Barbara Bialowa e Tomasz Mandes.
A história foi criada pela escritora polonesa Blanka Lipinska em uma série de três livros publicada a partir de 2018 e assumidamente inspirada em outra trilogia de romances sadomasoquista, 50 Tons de Cinza (2011-2012). Na comparação com o best-seller da autora inglesa E.L. James, há diferenças importantes.
Em vez de um empresário milionário como Christian Grey, temos um mafioso talvez até mais rico, o italiano Massimo (Michele Morrone). Em vez de uma jovem universitária virgem como Ana Steele, temos uma mulher quase na casa dos 30 anos e bastante interessada em sexo, a executiva polonesa Laura Biel (Anna Maria Sieklucka). Em vez de uma transa baseada em dominação e punição da parceira, temos, simplesmente, sequestro, cárcere privado, ameaça de estupro e quase todo tipo de situação que caracteriza um relacionamento tóxico.
365 Dias: Hoje começa no dia do casamento de Massimo e Laura, na Sicília. Na comparação com o primeiro filme, também há diferenças importantes. Bialowa e Mandes tomaram distância dos aspectos mais controversos e despiram-se dos pudores artísticos — não demonstram qualquer preocupação com a trama ou com a direção de elenco. Desde a cena inicial, empilham cenas de sexo. Um conflito dramático vai aparecer apenas lá pela metade dos 111 minutos de duração: Laura está entediada por não fazer nada (a não ser transar e curtir a vida com a amiga Olga), vê como controle o que o marido chama de proteção. Daí, convenientemente, surge na mansão do casal Nacho (Simone Susinna), um jardineiro todo malhado e tatuado. Pouco depois, Massimo revela à esposa a existência de um irmão gêmeo. Aí, sim, a história anda um pouquinho para frente.
Para frente e para trás, para frente e para trás, pela frente e por trás. Com dildos, vibradores, algemas, champagne, chantilly e outros quitutes.
Com classificação indicativa de 18 anos, 365 Dias: Hoje é uma espécie de pornô de luxo — percebe-se um capricho na fotografia, nos figurinos e na direção de arte — embalado por uma trilha sonora quase sempre brega e genérica. Os diálogos, ora em polonês, ora em italiano, ora em inglês pesadão, variam de "Você tem uma hora. Depois, eu vou fazer contigo tudo o que eu quiser" a "Será que já experimentamos de tudo?". Aliás, nas transas em que abundam nádegas, seios, gemidos e carões, troca-se bastante de posição — há até uma que pode ser considerada acrobática.
Só não é um filme de sexo explícito porque, segundo assegurou o ator Michele Morrone à época de 365 Dias, tudo é simulado. E muito bem escondido — merecem aplauso o talento e o trabalho do operador de câmera, das figurinistas e do editor, que souberam evitar ou tapar o aparecimento de genitais.