Quase todos os 15 filmes premiados na 94ª edição do Oscar, realizada na noite de 27 de março, estão disponíveis em plataformas de streaming.
As exceções são a comédia dramática Belfast, que valeu a Kenneth Branagh a estatueta dourada de melhor roteiro original, o documentário Summer of Soul e os curtas The Long Goodbye, The Queen of Basketball e The Windshield Wiper.
Confira, a seguir, onde assistir aos demais 10 vencedores do prêmio concedido pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. Clique nos links se quiser saber mais.
007: Sem Tempo para Morrer
A última aventura do ator Daniel Craig no papel de James Bond valeu aos irmãos Billie Eilish e Finneas O'Connell o Oscar de melhor canção original, com a pungente No Time to Die — que toca nos créditos de abertura, após a eletrizante sequência de perseguição na Itália. (Disponível para aluguel ou compra em Apple TV, Google Play, NOW e YouTube)
Amor, Sublime Amor
No papel de Anita, Ariana DeBose ganhou o Oscar de melhor atriz coadjuvante, o Globo de Ouro, o Bafta, o SAG Awards e o Critic's Choice. Steven Spielberg dirige a nova versão do celebrado musical da Broadway. Inspirado em Romeu e Julieta, de Shakespeare, Amor, Sublime Amor retrata um romance em meio ao conflito entre duas gangues rivais nas ruas da Nova York dos anos 1950. O jovem Tony é ex-membro dos Jets, majoritariamente branca, e se apaixona por Maria, irmã de Bernardo, o líder dos Sharks, que são porto-riquenhos. Falta química ao casal e sobre realismo no musical. (Disney+)
Ataque dos Cães
Com justiça, era o campeão de indicações — 12: melhor filme, direção (Jane Campion), ator (Benedict Cumberbatch), atriz coadjuvante (Kirsten Dunst), ator coadjuvante (Jesse Plemons e Kodi Smit-McPhee), roteiro adaptado, fotografia, edição, design de produção, som e música original. Mas só levou o prêmio de melhor direção, para a realizadora de O Piano (1993). Foi uma injustiça com este faroeste tardio (se passa em 1925) e desconstrutivo. Não espere bangue-bangue: este é um filme extremamente tátil, pleno de silêncios e olhares ora furtivos, ora eloquentes. Forma e conteúdo se combinam: Ataque dos Cães trata de atrito e de atração e é povoado por personagens ambíguos, com desejos sexuais reprimidos que podem levar a situações de perigo. (Netflix)
Cruella
Levou o merecido Oscar de melhor figurino, sem dúvida o principal destaque do filme, uma visão revisionista de uma das piores vilãs da Disney. Ambientado na Londres dos anos 1970 e embalado por uma trilha onipresente que inclui Rolling Stones (obviamente, com a lugar-comum Sympathy for the Devil), Queen, David Bowie, Supertramp, The Clash e Deep Purple, Cruella é pré-101 Dálmatas, ou seja, foca na transformação da jovem estilista Estella (interpretada por Emma Stone) na fashionista nefasta Cruella de Vil. A direção é de Craig Gillespie. (Disney+)
Drive my Car
O Oscar de melhor filme internacional coroou uma trajetória que inclui o prêmio de roteiro no Festival de Cannes, o Globo de Ouro, o Bafta e o Critic's Choice. Seu diretor, Ryûsuke Hamaguchi, não tem pressa para contar suas histórias. Já fez um filme de quatro horas e 15 minutos e outro de cinco horas e 17 minutos. Drive my Car tem três horas de duração, mas é tão imersivo que poderíamos passar mais tempo junto aos personagens, ouvindo seus longos diálogos sobre paixões, segredos e arrependimentos. Aliás, é tão intimista que realmente nos sentimos muito próximos dos personagens.
O protagonista é Yûsuke Kafuku (Hidetoshi Nishijima), um ator e diretor de teatro que tem sua vida abalada por perdas e traumas. Não por acaso, um dos cenários principais do filme é Hiroshima, cidade arrasada pela bomba atômica em 1945. Yûsuke viaja a Hiroshima para montar a peça Tio Vânia, de Tchékhov. Por causa das regras do festival de teatro, lá não poderá dirigir seu amado e bem cuidado carro, um Saab vermelho com 15 anos de uso e no qual escuta fitas cassete com falas dos espetáculos. Aí, ele passa a interagir com Misaki (Tôko Miura), a motorista contratada pelo festival. Ela também é atormentada pela dor e pela culpa. Nas ruas e nas estradas de Hiroshima, um lugar marcado pela morte e pela destruição, mas também pela resiliência e pela reconstrução, Yûsuke e Misaki vão, pouco a pouco, revelando os buracos de suas almas e encurtando a distância. No caminho, surgem curvas dramáticas, sinuosas, mas nunca bruscas, e sempre em direção a algum tipo de cura. (MUBI)
Duna
A ficção científica do diretor franco-canadense Denis Villeneuve fez uma tempestade de areia nos prêmios técnicos do Oscar: ganhou nas categorias de fotografia, edição, design de produção, som, música original e efeitos visuais. Adaptação de um clássico romance publicado em 1965 pelo escritor estadunidense Frank Herbert, que influenciou diretamente a saga Star Wars, Duna se passa no ano de 10.191, num futuro que se mistura com o arcaico. O imperador Shaddam Corrino IV comanda os planetas sob um sistema feudal, os combates corpo a corpo misturam espadas e campos de força. Temos naves espaciais que transportam multidões e helicópteros que se assemelham a insetos, edificações que remetem às pirâmides do Egito e gigantescos vermes que singram sob o deserto de Arrakis, o principal cenário. Em meio à ação, surgem, para reflexão, temas religiosos, político-econômicos e ecológicos. O protagonista, Paul Atreides (Timothée Chalamet), é o messias destinado a libertar os povos oprimidos por jogos de poder que espelham os efeitos do colonialismo, do imperialismo e do capitalismo predatório. As valiosas "especiarias", com utilidades tanto místicas quanto tecnológicas, aludem à maneira como exploramos os recursos naturais. (HBO Max)
Encanto
Título histórico na trajetória da Disney (o 60º longa do estúdio) e com boa bilheteria (US$ 240,6 milhões) em tempos de pandemia e chegada rápida ao streaming, Encanto ganhou quase todos os prêmios de animação: Oscar, Globo de Ouro, Bafta e o PGA Awards. Com composições de Lin-Manuel Miranda e direção de Byron Howard, Jared Bush e Charise Castro Smith, o filme celebra a diversidade étnica e cultural — a trama se passa na Colômbia. A trama é sobre a família Madrigal. Todos têm poderes especiais — Pepa, por exemplo, controla o clima, Julieta cura pela comida, Bruno vê o futuro —, com exceção de uma das netas da Abuela Alma, Mirabel, que, claro, acaba tendo de salvar os outros. (Disney+)
King Richard: Criando Campeãs
Depois do lamentável episódio do tapa desferido por Will Smith no comediante Chris Rock, o Oscar de melhor ator confirmou o que havia sido prenunciado no Globo de Ouro, no Bafta, no SAG Awards e no Critic's Choice. O curioso é que o protagonista de King Richard: Criando Campeãs remete às duas indicações anteriores de Smith. Richard Williams é uma figura real como Muhammad Ali e Chris Gardner. A exemplo do boxeador de Ali (2001), faz do esporte uma arena para o combate ao racismo. A exemplo do pai desempregado de À Procura da Felicidade (2006), não mede esforços para que as filhas (as tenistas Venus Williams e Serena Williams) tenham um futuro radiante. Com figurino (calções curtos e meias esportivas levantadas até o joelho) e sotaque singulares, o personagem permite ao ator de 53 anos exercitar qualidades que estavam adormecidas. Os traços psicológicos contribuem: Richard é obsessivo, teimoso e rigoroso. Pena que o filme do diretor Reinaldo Marcus Green se concentre tanto na figura do protagonista, nublando o talento e a autodeterminação das garotas — interpretadas respectivamente por Saniyya Sidney e Demi Singleton. (HBO Max)
No Ritmo do Coração
CODA, o título original, é a sigla de Child of Deaf Adults, filho de pais surdos. Teve 100% de aproveitamento no Oscar: melhor filme, ator coadjuvante (Troy Kotsur) e roteiro adaptado — No Ritmo do Coração é a versão da cineasta estadunidense Siân Heder para o francês A Família Bélier (2014). A premissa é a mesma, trocando uma fazenda por uma cidade pesqueira. A adolescente Ruby (papel de Emilia Jones) é a única ouvinte e falante entre os Rossi — todos interpretados por atores surdos: Troy Kotsur (o pai), Marlee Matlin (a mãe) e Daniel Durant (o irmãos mais velho). Atraída por um colega de escola que canta, Miles (Ferdia Walsh-Peelo), resolve se inscrever nas aulas do coral comandado pelo professor Bernardo Villalobos. A situação acabará criando um dilema para Ruby, abrindo portas para temas como amadurecimento e pertencimento. (Amazon Prime Video)
Os Olhos de Tammy Faye
Depois de competir por Histórias Cruzadas (2011, como coadjuvante) e por A Hora Mais Escura (2012), Jessica Chastain ganhou seu primeiro Oscar de melhor atriz três dias após completar 45 anos. O drama biográfico de Michael Showalter é baseado no documentário homônimo lançado em 2000 por Fenton Bailey e Randy Barbato. Retrata a história polêmica dos televangelistas Jim Bakker (Andrew Garfield) e Tammy Faye Messner. O filme é protocolar e, por cometer o pecado de tentar condensar toda uma vida em duas horas, soa apressado em um bocado de cenas. Os Olhos de Tammy Faye vale por Chastain, ainda que ela esteja escondida por uma maquiagem (também oscarizada) que acaba chamando mais atenção do que sua atuação — o trabalho inclui próteses para imitar a estrutura facial de Tammy, afinamento dos lábios, olhos extremamente pintados, perucas e rugas postiças. (Estreia no Star+ no dia 6/4)