A faixa Cinema Especial da RBS TV apresenta nesta quarta-feira (12/5), às 22h25min, um filme que costuma arrancar muitas lágrimas e comentários elogiosos dos seus espectadores: Milagre na Cela 7 (2019), versão do diretor turco Mehmet Ada Öztekin para um título sul-coreano homônimo de 2013.
"Se eu assistir a mais um que me faça chorar tanto, vou ficar desidratada", escreveu uma usuária do Facebook certa vez. Meu amigo David Coimbra, em sua coluna, confessou que seus olhos marejaram, mas que se segurou porque "virar um bezerro em dois filmes (o outro era O Campeão, de 1979) seria demais para um cara do IAPI".
Milagre na Cela 7 encontrou uma sintonia com o público porque oferece a redenção de que todos estamos precisando nesses tempos de covid-19, em que ameaças à saúde — pública, privada e mundial, física, mental e econômica — e restrições sociais reduzem nosso ânimo e elevam nossos níveis de estresse e ansiedade.
Trata-se de uma espécie de elo perdido entre dois filmes estadunidenses: Uma Lição de Amor (o genérico nome brasileiro para I Am Sam), em que Sean Penn interpreta um pai solteiro cuja idade mental começa a ser ultrapassada pela da filha de sete anos; e À Espera de um Milagre, que mostra o cotidiano no corredor da morte de uma penitenciária, onde carcereiros e internos descobrem que uma alma bondosa foi injustamente condenada.
A história começa em um vilarejo turco da década de 1980. Memo (Aras Bulut Iynemli), pai da garotinha Ova, é preso sob a acusação de matar a filha de um poderoso militar. Depois de ser espancado, seu martírio continua na cadeia, onde seus colegas de cela consideram o crime repugnante. Do lado de fora, Ova (em doce atuação de Nisa Sofiya Aksongur) descobre que existe uma testemunha do acidente e se empenha em provar a inocência do pai.
É uma corrida contra o tempo: Memo foi sentenciado à forca. O sofrimento do protagonista e a indignação do espectador são primeiro acentuados para depois serem mitigados. É um processo de catarse com uma série de elementos tranquilizadores, inspiradores e que se conectam com o mundo atual. O vilão, por exemplo, é claramente identificado, ao contrário da invisibilidade traiçoeira do coronavírus — e esse militar, a mais alta instância de poder na trama, recusa-se a enxergar evidências, como acontece com alguns presidentes. O senso comunitário é enaltecido: só a união de esforços, sem omissões e passando por cima de diferenças (ideológicas, religiosas, econômicas etc), pode salvar Memo. E, para além da bondade, será necessário um sacrifício — o entendimento disso gera uma das sequências mais belas e impactantes do filme.