Esse ano, iniciarei o meu vigésimo ano de prática de atletismo. Olhando para trás, só consigo pensar em como tem sido espetacular essa caminhada, que na verdade já se tornou uma grande maratona a essa altura do campeonato.
E por falar nisso, é amplamente sabido que correr uma maratona não é fácil, não só por toda a preparação prévia que envolve, mas principalmente pelos percalços do caminho. As adversidades que podem surgir são completamente relacionáveis com as nossas vidas, ainda mais nós que tentamos viver de esporte no Brasil. Após tanto tempo nessa vida, uma das coisas que mais martelam na minha mente é pensar em formas de me manter motivado.
Manter-se motivado é uma das habilidades mais subestimadas por quem vive de esporte. Raramente aparece no topo das maiores “forças” ou capacidades deles. Sempre escutamos muito serem citadas a resiliência ou paciência, mas a motivação é primordial a esses pontos que também são importantes. Veja bem: sem motivação nada acontece. Se não nos sentimos motivados, não temos vontade de encarar o que há pela frente. A motivação, ou nesse caso a automotivação, é a base para o resto.
Usei a palavra "subestimada", mas não no sentido de não ser valorizada, mas sim pelo fato de ser uma habilidade pouco desenvolvida conscientemente pelos atletas. Os de alto rendimento precisam ser mestres na (auto)motivação. E não só durante a competição, como tudo leva a crer, mas principalmente no dia a dia de treinos.
Não canso de falar aqui, mas é algo bastante abstrato para quem não é do meio: é extremamente difícil trabalhar com os nossos corpos a 100% ou próximo disso todos os dias durante anos. E digo "extremamente" porque os malefícios que o treinamento causa nos nossos corpos permanecem mesmo após a aposentadoria do esporte. É como dizem por aí, são "ossos do ofício". Esses aspectos de nossa vida, que inclusive abraçamos, são absorvidos e tratados com naturalidade no alto nível.
E como nos mantemos motivados?
Acredito que atletas pertencem a um dos grupos mais fiéis e crentes de si mesmo. É a crença de que sempre podemos melhorar que nos mantém em movimento. Independentemente de marcas, títulos ou conquistas, nós SEMPRE pensamos que dá para melhorar. É aí que entra a motivação que nos move.
É a ideia de ser pelo menos 1% melhor a cada dia, mês ou temporada. Isso que mantém os atletas em atividade. A partir do momento em que se perde essa gana, é o momento de se aposentar ou parar.