Chegamos a mais um mês de dezembro e, por mais caótico e cheio de acontecimentos que ele tenha sido, principalmente no RS, tenho a impressão de que o ano passou rápido. Cada vez mais, dezembro se torna uma parte interessante do ano em função das diversas retrospectivas que diferentes plataformas oferecem: de música, jogos, videogames, filmes, séries, corrida, entre outros. E muitas pessoas compartilham essas coisas orgulhosas em suas redes sociais as estatísticas anuais.
Para mim, a mais curiosa delas foi a do número de dias que treinei esse ano — até o momento, 225 dias, podendo chegar a 238 até o fim do ano. Parece pouco e está abaixo comparado com meus anos anteriores. Porém, parando para pensar, esse ano, com as enchentes que assolaram nosso Estado, uma lesão no púbis que não tive tempo de curar, além do fato de não ter me classificado para os Jogos Olímpicos, acabaram contribuindo consideravelmente para o número “reduzido” de treinamentos que fiz esse ano.
Claro que comparado a um trabalhador médio brasileiro, esse número de dias é inferior, mas quando se vive de esporte, o nosso dia a dia envolve utilizar 100%, ou quase isso, de nossas capacidades físicas TODOS os dias. Diferentemente do trabalhador médio brasileiro, não podemos nos dar ao luxo de “pegar leve” um dia em que não estejamos muito dispostos, essa carga acumulada ao longo do tempo causa muito desgaste em todo e qualquer atleta, por isso acredito que seja equivalente a trabalhar mais dias.
Eu comecei a contabilizar o número de treinos em 2020, ano da pandemia, onde treinei apenas 185 dias. Meu recorde é 290 dias no ano de 2021, talvez não por acaso o melhor ano da minha carreira e, embora seja interessante essa comparação entre anos, de certa forma ela acaba sendo um pouco injusta, pois nenhum ano é igual ao outro.
Talvez uma das coisas mais difíceis no atletismo seja manter-se em alto nível. A maneira como desgastamos nossos corpos ao longo de um ano é incognoscível para a grande maioria das pessoas e não há imagens ou vídeos que façam jus ao que se passa no nosso dia a dia, por isso são raros casos de atletas, diferente de outros esportes individuais, que conseguem permanecer dominantes por dois ou três ciclos olímpicos.
É como sempre digo em minhas colunas, tudo que fazemos durante anos é por um momento muito específico de um ano, ou dentro de quatro anos, e dedicamos nossas vidas por uma porcentagem mínima, inalcançável por mais de 99,9% da população terrestre. Tem momentos que penso que é loucura, mas em outros momentos penso que há algo de poético nisso. De qualquer forma, continuamos acreditando, treinando o máximo de dias possíveis para alcançarmos nossos objetivos. Inclusive já tenho minha primeira meta para o ano que vem: treinar mais que esse ano.