Dá gosto quando se vê um centro histórico preservado, bem-cuidado e vivo. É motivo de exemplo e inspiração — penso nisso sempre que planejo produzir uma série sobre cidades históricas. E essa foi a sensação ao percorrer as ruas de Lapa, uma das cidades mais antigas e com o maior acervo de bens tombados do Paraná, originada do tropeirismo do século 18.
Lapa se localiza a pouco mais de 70 quilômetros de Curitiba (1h30min de viagem), pela BR-476. As construções dos séculos 18 e 19, em estilo colonial português, se mantêm intactas e abrigam instituições públicas, museus, residências, restaurantes. A circulação tranquila de turistas pelas ruas de paralelepípedo e as réplicas de luminárias, que à noite transmitem uma atmosfera suave, transportam para outra época.
Na chegada, em destaque, em frente à Praça General Carneiro, está a construção mais antiga, a Matriz de Santo Antônio, de 1784. O nome da praça, aliás, remete àquele que é considerado um herói local e que liga a cidade também à história do Rio Grande do Sul.
É que, em 1894, durante a Revolução Federalista (1893-1895), ocorreu ali um confronto chamado Cerco da Lapa, envolvendo pica-paus (que defendiam o governo central do Marechal Floriano Peixoto) e maragatos (contrários ao governo republicano e liderados por Gumercindo Saraiva, tendo como chefe político Silveira Martins).
O cerco se deu quando o movimento dos sulistas tentava avançar para São Paulo e para a capital de então, Rio de Janeiro. O exército da Lapa, formado por muitos civis e liderado por Gomes Carneiro, morto após um dos confrontos, conteve o exército maragato por 26 dias, até ser rendido. A memória desse combate ganhou um monumento conhecido como Panteon dos Heroes.
Mas ninguém mais quer saber de guerras por aqui. O clima é de paz, ainda que sejam obrigatórias as visitas aos pequenos e bem administrados museus que exibem relíquias daqueles tempos, e há boas opções gastronômicas para descansar das batalhas que todo turista terá de enfrentar: gastar a sola de sapato caminhando pelas tranquilas ruas da Lapa.
Não dá para deixar de ver...
O centro histórico da cidade de 48 mil habitantes é pequeno e o mais interessante é ir caminhando e admirando as construções, mas um roteiro básico e a entrada em alguns museus podem ajudar a entender melhor a história.
- Matriz de Santo Antônio — Construção mais antiga da cidade, de 1784, é tombada pelo Patrimônio Artístico e Histórico Nacional.
- Theatro São João — A fachada é bonita, mas é o interior, em madeira, que mais impressiona. Recebeu a visita de Dom Pedro II e da imperatriz Thereza Christina em 1880.
- Museu Histórico — Fica bem ao lado do teatro e tem objetos que lembram, principalmente o Cerco da Lapa, durante a Revolução Federalista.
- Casa Lacerda — O museu revela como era uma residência de uma família abastada do século 19, com mobiliário e decoração originais nos ambientes de seu interior.
- Museu das Armas — Hoje Câmara dos Vereadores e museu, abrigou a primeira cadeia. Preserva munições e armas usadas na Revolução Federalista e em outras batalhas.
- Santuário de São Benedito — Maior templo dedicado ao santo em todo o mundo.
- Parque e Gruta do Monge — Afastada do centro histórico, a 3,5 quilômetros, teria servido de abrigo ao monge João Maria D'Agostinis, que se dedicava ao estudo de plantas medicinais e atendia doentes com chás e orações. Virou ponto de peregrinação.
- Há também nos arredores da cidade opções para turismo rural e de aventura. Dá para combinar os dois tipos de visita.
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Na Feira do Livro de Porto Alegre — A Praça da Alfândega sempre reserva espaços para a literatura de viagem e uma das obras com esse tema com sessão de autógrafos nesta edição é o livro de crônicas de viagens Um Lugar na Janela 3, de Martha Medeiros, da editora L&PM. As andanças descritas por Martha ocorreram antes da pandemia e, durante o confinamento, ela embarcou "nas memórias de viagens passadas" para construir os textos. As lembranças da escritora gaúcha nos trazem pelo menos 10 experiências na Europa, na América do Sul e em diferentes pontos do território brasileiro, como o Amazonas e o Rio de Janeiro, e um quase inusitado, para ela, mergulho no Pampa gaúcho.
Sessão de autógrafos no dia 5/11, às 18h, na Praça de Autógrafos, na Praça da Alfândega.
Mais experiências no Viva o RS — Plataforma nascida em 2020, o Viva RS agregou neste ano mais 75 experiências turísticas no Estado. Com isso, já são 14 regiões abrangidas. Entre as novidades, 47 experiências estão distribuídas pelas regiões das Hortênsias, Uva e Vinho, na Serra. A proposta é levar os turistas a experimentar atrações que fujam ao óbvio e reforçar economias locais, que podem cadastrar passeios e roteiros. A plataforma, desenvolvida pela Secretaria de Turismo (Setur) e pelo Sebrae RS, reúne locais e atividades em mais de 90 cidades e uma centena de empresas parceiras. Confira em vivaors.com.br