Todo viajante um dia se pergunta: melhor conhecer um lugar novo ou voltar para um lugar do qual se gosta muito?
Esse dilema me acompanha desde sempre e fico me revezando entre uma resposta e outra, mesmo quando se trata de locais "próximos" de casa. Mas basta algum visitante me convocar e lá estou eu de volta aos Campos da Cima da Serra. O trajeto é o mesmo, mas a viagem, ainda mais variando a companhia, nunca é.
Este roteiro a seguir poderia até ser para as séries "Algumas horas em..." ou "A cidade ao lado...", mas envolve três pontos diferentes e três dias, desfrutados com muita calma. Então, separei aqui por dia e por cidade (vale até bate-volta neste feriado do dia 12, excetuando Cambará, que precisa de mais tempo!):
1º dia — São Francisco de Paula
A cidade está a cerca de duas horas de Porto Alegre, e o plano era chegar no horário do almoço para desfrutar da refeição na hospedagem, o Parador Hampel, um dos hotéis mais antigos — e simpáticos — em atividade no Estado. É que no prédio do final do século 19 é servido um menu chamado "dias longos" ou "dias curtos", conforme a estação. Foi um deleite, que teve de ser compensado com uma caminhada pela mata nativa, passando pelas três pequenas quedas d'água da propriedade de 21 hectares e chegando até o lago.
A proposta, para a tarde, ainda era ir até a Livraria Miragem, no Centro, e caminhar ou andar de bicicleta em torno do Lago São Bernardo, mas o frio (e a preguiça) fez com que a jornada seguisse com uma volta de carro pelo lago e jantar ali próximo, no Zodíaco Bistrô Lounge, que tem um ambiente simpático no segundo piso de um contêiner. Queria ter conhecido também o Jardim Madá, outra novidade para mim na cidade, que fica logo ao lado, e tem parrilla e piqueniques, mas só abre aos finais de semana — anotado para a próxima vez.
A noite se encerrou com vinho em torno da fogueira que os funcionários do Hampel preparam para os hóspedes. O parador, aliás, lança no próximo domingo, dia 16, mais uma novidade, a "Gaiola das Loucas", que coloca o fogo e as comidas a "flutuarem" em estruturas metálicas, indo além do já conhecido projeto A Ferro e Fogo, do chef Marcos Livi.
2º dia — Cambará do Sul/São Chico
Após o desjejum com café passado na mesa e muito queijo serrano, para resumir bem resumido, parti para Cambará: uma hora de viagem até a cidade, mais uns 40 minutos até o Itaimbezinho. Quando me perguntam se dá para ir aos dois cânions "visitáveis" de Cambará no mesmo dia — além do já citado, o Fortaleza —, eu costumo responder: até dá, mas melhor não fazer. Desta vez, com crianças no grupo, fiquei só no Itaimbezinho e apenas cumprindo a trilha mais curta, a do Vértice, que se faz em uma hora e meia.
Depois, mais uma tradicional caminhada até o Café do Vô Marçal e Artesanato da Vó Maria para tomar um café com leite com pastel recheado com pinhão, já preparando o estômago para o almoço (ou seria só gula?). E de novo, de volta a um velho conhecido: almoço no Parador Cambará, no meio do caminho entre o Itaimbezinho e a cidade. Mesmo que você não se hospede ali (as instalações mais novas são os casulos), pode desfrutar do almoço e da paisagem. Quem assina o menu é o chef Rodrigo Bellora e os pratos têm aquela releitura bacana da culinária regional.
Voltamos para São Chico, onde seguimos hospedados, com aquele leve cansaço que um dia bem desfrutado dá. Jantar leve no hotel e muitas tentativas frustradas para acendermos nós mesmos a fogueira para encerrar a noite. De novo contamos com a ajuda preciosa do pessoal do Hampel.
3º dia — São Chico/Três Coroas
Já tinha ido ao Mátria Parque de Flores, a 10 quilômetros do centro de São Chico, uns dias antes de sua abertura, em novembro do ano passado. Na época, em plena primavera, fiquei impressionada com a explosão de flores, rosas principalmente, de cores, de aromas. E fiquei imaginando como seriam o parque e seus 30 jardins nas outras estações do ano. O retorno, no meio do inverno, trouxe outras sensações e uma paisagem diferente, mas não menos bonita. Havia, talvez, mais silêncio e serenidade. Também não tinha visto todas as estruturas em funcionamento e fiquei encantada.
O almoço, no Mátria Restobar, à beira do lago e ao ar livre, se revelou uma escolha perfeita para o dia, com comida boa e atendimento idem — há ainda a possibilidade de piqueniques ou de comer nos outros dois restaurantes, o Casa Verde-Arbóreo ou o Faullia, no Boulevard que dá acesso ao parque e que tem uma loja com itens de decoração e jardinagem de onde se quer levar tudo. As flores a essa altura já preencheram de novo todos os espaços e o mês de outubro, aliás, tem programação intensa por aqui — para este Dia da Criança, teatro de bonecos e oficinas.
Voltando ao meu roteiro: após o almoço, partida para um reencontro com o Templo Budista Chagdud Gonpa Khadro Ling, em Três Coroas, a 26 quilômetros de distância do parque. Já estive inúmeras vezes, em cerimônias ou levando visitantes, e é sempre renovador ver aquele espaço tão bem cuidado dedicado à meditação, ao silêncio e à paz. Foi minha primeira vez desde a reabertura pós-pandemia e é lugar para voltar, voltar e voltar (abre de quinta a domingo, mas sempre consulte em templobudista.org).