Na esteira do já consolidado Caminho dos Moinhos, criado em 2004 para valorizar e preservar construções originais no Alto do Vale do Taquari, pipocam novidades, e o sentimento é de otimismo. É que a região, de grande beleza natural, deve ser beneficiada pelo afluxo de turistas e por investimentos que a construção do Cristo Protetor, em Encantado, pode acrescentar. As novidades incluem principalmente o Museu do Tijolo, em Arvorezinha, com obra civil concluída, e duas réplicas de moinhos coloniais em Encantado e Dr. Ricardo, em fase de finalização.
— Ainda que sejam réplicas, os moinhos de Palmas e o Calvi têm uma riqueza construtiva e valor imaterial que justificariam sua inclusão no Caminho. Eles mantêm a memória da construção de um moinho colonial. O Museu do Tijolo já integra nossa associação — explica o arquiteto e urbanista Ismael Rosset, diretor de Assuntos Externos da Associação dos Amigos dos Moinhos do Vale do Taquari (AAMoinhos).
O marco principal do Caminho dos Moinhos é o Complexo Arquitetônico Museu do Pão, no antigo Moinho Colognese, em Ilópolis, e, para conhecer os demais moinhos originais, os visitantes têm de percorrer cerca de 70 quilômetros. Rosset sugere que os turistas entrem em contato para que a associação ajude com roteiros personalizados, já que as distâncias são grandes e não é possível conhecê-los todos em um único dia.
— No futuro, o turista não se limitará à visita à imagem do Cristo e buscará ainda mais as atrações da região. Ele vai querer conhecer a gastronomia, a arquitetura e os atrativos naturais. Isso faz com que tenhamos de pensar em um trabalho integrado, acreditando no potencial — diz o arquiteto.
A associação também colabora na criação do Museu do Porco, que deve surgir em Encantado em breve, para contar a história da suinocultura, importante no desenvolvimento local.
Museu do Tijolo (Arvorezinha)
Concluída a obra civil, até recebeu visita do governador e da secretária de Cultura, em maio de 2021, para apresentação do projeto. Mas o prédio com tijolos aparentes ou caiados de branco precisa ser “recheado” para funcionar e contar a história do tijolo. Abrigará ainda auditório para 48 pessoas, biblioteca, ateliê de cerâmica artística e o memorial da Cerâmica Fachinetto.
A ideia é aproximar ao máximo o museu da comunidade, também proporcionando atividades lúdicas, diz Marizangela Secco Perin, que atuou por três anos no Museu do Pão de Ilópolis e agora assessora o Museu do Tijolo.
O projeto do Escritório Brasil Arquitetura, dos arquitetos Marcelo Ferraz e Francisco Fanucci, tem marcas audaciosas, como as colunas compostas por tijolos em desalinho. Marizangela diz:
— O tijolo em si já é uma peça de arte, e as colunas são como grandes esculturas.
Do lado de fora do prédio de 580 metros ficará exposto um caminhão Chevrolet, modelo 1951, o primeiro adquirido pela Fachinetto, instalada na região em meados do século 20, usado para transportar matéria-prima e os tijolos. Também na área externa será contada a história do tijolo e da cerâmica para que, mesmo com o museu fechado, o visitante tenha acesso às informações.
Os donos da Fachinetto, os primos Claudir e Valmir, entusiastas na preservação da cultura local, idealizaram o projeto, doaram o terreno para AAMoinhos por 20 anos, custearam a primeira parte da obra e obtiveram recursos para a construção por meio da Lei de Incentivo à Cultura (LIC). Agora, com a captação de recursos aprovada para o conteúdo e o mobiliário, falta arrecadar o valor necessário, e o museu busca apoiadores. O plano é abrir no máximo em 2023, mas já pode haver visitação com agendamento pelo fone 51 99679-9084 ou 51 99972-9541.
Moinho Calvi (Dr. Ricardo)
Erguido com as mesmas técnicas dos antigos moinhos coloniais, fica na Linha Santa Lúcia, em Dr. Ricardo, e teve festa de inauguração em novembro passado, mas ainda não está operando. A necessidade da instalação de uma rede elétrica trifásica, que depende da companhia de energia, impediu o início das operações industriais e do complexo turístico. O proprietário, Jorge Calvi, acredita que até o final de abril deve estar tudo em funcionamento e, além de verem como se produz a farinha de milho e de trigo, os visitantes terão à disposição um bar e outras atrações.
Moinho de Palmas (Encantado)
Os 400 metros quadrados do moinho no Parque João Batista Marchese deveriam ser uma reconstrução completa do antigo prédio existente no bairro de Palmas. Mas só os tijolos e alguns equipamentos puderam ser reaproveitados, explica a engenheira civil Ana Delsa Tronco Civardi, diretora do departamento de projetos da prefeitura. O estilo e as medidas também permaneceram. A intenção é que o local, em fase de finalização, seja também ponto de apoio aos turistas que visitarem o Cristo Protetor, a ser concluído este ano. A produção de farinha, no interior, será apenas artesanal.
— A ideia é mostrar como funcionava, ser educativo e apontar o valor imaterial desse tipo de construção — explica a engenheira.
No lugar do antigo moinho, em Palmas, está surgindo uma praça e uma réplica em estilo menor pode ser acrescentada como atração, superando a polêmica inicial por sua demolição.
Outros endereços
- Moinho Colognese (Ilópolis): abriga o Museu do Pão desde 2008. De terça a sexta (manhã e tarde) e sábados, domingos e feriados (à tarde), mediante agendamento (51 99679-9084). Oficinas de pão para um mínimo de seis e máximo de 18 pessoas, mediante agendamento.
- Moinho Fachinetto (Arvorezinha): particular, hoje abriga um bistrô (o Moinho 1949, de terças a domingos). Agendamento de visitas pelo (51) 98049-7265.
- Moinho Burille (Arvorezinha): o edifício de madeira com equipamentos será restaurado para abrigar o Memorial do Grão. Visita por agendamento: (51 99679-9084).
- Moinho Castaman (Arvorezinha): particular, o edifício de madeira tem equipamentos e pode ser visitado mediante agendamento.
- Moinho Dallé (Anta Gorda): particular, recebe turistas no edifício de madeira que continua beneficiando e produzindo farinha de milho.
- Moinho Marca (Putinga): o edifício de alvenaria particular já não tem equipamentos, mas pode ser visitado. Fica a 800 metros da antiga Usina de Putinga, recuperada e transformada em parque.
- Moinho Giordani (Itapuca): particular, pode ser visitado.
Veja mais em caminhodosmoinhos.com
Outros projetos
A Casa Martelli, na Linha Viena, em Anta Gorda, já ganhou um projeto de recuperação e está vinculada à AAMoinhos. Ali funcionará um pequeno memorial ao leite que deve ficar pronto ainda em 2022.
Há planos em andamento para recuperar a Madeborg, na Linha Borghetto, também em Anta Gorda, e a antiga madeireira construída à margem de um riacho deve funcionar como um memorial à madeira.