Ainda se faz essa pergunta do título, diante das incontáveis possibilidades? Dá para cada um ser o que quiser e muita coisa. Quando eu era criança, as respostas eram limitadas a umas poucas profissões: médico, bombeiro, professor… Contavam-se nos dedos da mão. Mas, sim, muitos de nós queríamos inclusive ser professores. Há uma quantidade enorme que continua querendo ser médico. Fui verificar os dados da densidade do último vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e lá estão os números para não me deixar mentir: 84 candidatos disputaram cada vaga por Medicina. Já a Pedagogia, curso clássico para candidatos ao magistério, tinha míseros quatro concorrentes para cada vaga.
Quem por aí sonha em ser professor?
Não muitos, por certo, e não vou elencar os conhecidíssimos motivos.
Stheffany e sua assistente Camila, que já são “professoras” há dois anos, dizem ter um propósito: – Dou aula porque quero um mundo melhor.
Por isso chama atenção quando se ouve uma frase dita assim com todas as letras:
– É um sonho que eu tenho de ser professora quando crescer.
Ouvi em uma reportagem, na fala de uma menina de 12 anos com nome estrangeiro de letras dobradas, ipsilone e agá: Stheffany. Se você não viu, procure no site do Fantástico, da Rede Globo, a história dessa garota magrinha de uma comunidade pobre de Recife, a Roda de Fogo. É assim que Stheffany se apresenta:
– Sou professora da Rua do Patrimônio.
Vou contar um pouquinho: quando não está na escola, a menina, que tem até uma auxiliar, pega um pequeno quadro-verde, apagador e giz e ruma para um beco, a tal Rua do Patrimônio. Com uma vassoura pouco menor do que o seu tamanho, ela primeiro trata de deixar o corredor estreito limpo de bitucas de cigarro, restos de cimento, cascalho e qualquer outro tipo de lixo. Depois, coloca uma colcha no chão e almofadas para acomodar melhor seus pequenos alunos. Pendura o quadro diminuto num vão da parede e bate de porta em porta chamando os estudantes. Pelo jeito, não aceita não como resposta.
Nas suas lições, pelo menos nas vistas na reportagem, reproduz o que vivencia na sua sala de aula: faz chamada, pede que as outras crianças copiem a lição do quadro, exige silêncio quando está falando. Mas também pega na mão dos pequenininhos para que caprichem na letra e repete o conteúdo tantas vezes quantas necessárias para que entendam.
O que emociona, nesse caso, e como se precisasse mais, é que a brincadeira não é inconsequente.
Uma moradora contou que as crianças, que antes só brincavam de “polícia e ladrão”, espelhando a violência local, agora estão mais interessadas em participar das aulas e em aprender.
Stheffany e sua assistente Camila, que já são “professoras” há dois anos, dizem ter um propósito:
– Dou aula porque quero um mundo melhor.
Alguém aí duvida disso?
Que a brincadeira persista e Stheffany seja o que quiser ser quando crescer. Inclusive professora, uma profissão com futuro incerto, mas fundamental.