Não foi por falta de criatividade que os holandeses convocados para estudar o que deu errado em Porto Alegre na enchente de 2024 chegaram a conclusões tão óbvias. O relatório apresentado na segunda-feira (19) choveu no molhado, com o perdão do trocadilho. As conclusões são as mesmas do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS, dos técnicos do Dmae e de outras instituições.
Nem poderia ser diferente: os holandeses são técnicos competentes, mas não vieram ao Rio Grande do Sul para reinventar a roda, ainda que tenham apresentado pelo menos uma sugestão de eficácia duvidosa, como a construção do murinho à frente dos armazéns do Cais Mauá.
Os holandeses concluíram que as bombas não funcionaram a contento porque estão instaladas na altura errada. Alguém tinha dúvida sobre a necessidade de repensar o sistema de bombas e de fazer a manutenção adequada?
Constataram que os diques foram construídos mais baixos do que previa o projeto dos anos 1960. Disso também já sabíamos.
Choveu mais do que se previa quando o sistema de proteção foi projetado. Sim, disso também estamos cansados de saber.
As comportas não funcionaram adequadamente. Sim, vimos com nossos próprios olhos a água do Guaíba vazando pelos portões e refluindo pelos bueiros. Todas as outras conclusões também eram conhecidas e não é o caso de repeti-las aqui.
Diagnóstico feito, é hora dos projetos
O que interessa a partir do diagnóstico é o que fazer para que a tragédia de maio não se repita. Alguns projetos já existem, mas terão de ser atualizados à luz dos novos dados sobre cotas de inundação. O governo federal garante que não faltarão recursos: é preciso que o Estado e os municípios apresentem projetos.
Os engenheiros do quadro ou equipes contratadas pelo governo estadual e pelas prefeituras deveriam debruçados sobre os projetos, que são complexos e exigem longo tempo para a execução. A quantas andam?
Nada é simples
Para reconstruir e levantar os diques do Sarandi e da Fiergs, que extravasaram na enchente de maio, é preciso realocar as famílias que ali se instalaram de forma irregular. Para onde irão? Em quanto tempo? Quem vai bancar?
ALIÁS
Não há como pensar em soluções de longo prazo sem repensar a ocupação das ilhas do Guaíba. A justificativa de que as famílias que ocupam áreas que deveriam ser de preservação condena Porto Alegre a assistir, a cada enchente, o problema se repetir. Não há, nos planos dos candidatos até aqui, soluções efetivas para as ilhas e seus moradores, muitos dos quais vivem da reciclagem de lixo.
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