Desta vez não foi falta de informação. Os meteorologistas fizeram sucessivos alertas de que o Rio Grande do Sul seria afetado na noite de terça-feira (16) por um temporal de grandes proporções. Os mapas mostravam a velocidade do vento, o risco de granizo, o imenso volume de chuva que estava por vir e como seria em cada região. A Defesa Civil emitiu avisos para as prefeituras e disparou alertas para a população. Mesmo assim, as concessionárias de energia, que diziam ter um plano de contingência, parecem ter sido pegas de surpresa pelos estragos em suas redes, decorrentes do vendaval.
Cada vez mais, as mudanças climáticas (com ondas de frio e de calor) provocarão fenômenos destrutivos no planeta Terra. Nisso convergem os cientistas, que passam a vida estudando. Ainda que exista o negacionismo climático, ele é minoritário e não pode pautar o setor público e as empresas privadas que prestam serviços essenciais. Planejar é preciso, montar planos de contingência tornou-se elementar nesses tempos de incerteza.
CEEE Equatorial e RGE terão de rever suas estruturas e o treinamento de suas equipes para que, nos próximos temporais, os clientes não fiquem 48, 72 ou mais horas sem energia. O mesmo vale para as empresas de saneamento, públicas ou privadas, que precisam dar respostas rápidas e não podem se escudar na falta de luz para justificar os canos e as caixas d'água vazias.
O temporal de terça-feira, que prejudicou a vida de milhões de pessoas no Rio Grande do Sul, não pode ser tratado como um ponto fora da curva. Lembremos que, no mesmo condomínio do Passo d'Areia onde, no dia 2 de janeiro, uma mulher quase morreu afogada dentro do elevador a chuvarada do dia 16 alagou a garagem e deixou 17 carros submersos. Não pode ser apenas coincidência.
Em meio à busca por culpados, as árvores que fazem de Porto Alegre a cidade aprazível que é viraram vilãs. Não faltam os defensores de podas radicais, como se fosse o deserto um bom lugar para se viver. A capital gaúcha tem, de fato, milhares de árvores doentes que precisam ser substituídas por novas mudas, levando em consideração a localização das redes elétricas. Outras precisam de poda, para que não encostem na fiação, mas não se pode criminalizar a vegetação. O mais sensato é, primeiro, definir de quem é a competência para fazer as podas e monitorar as que precisam de alguma intervenção.
Não caíram apenas árvores doentes ou tomadas pela erva-de-passarinho. O vento quebrou troncos, espalhou galhos e arrancou algumas pela raiz. A maior parte dos casos de falta de luz tem origem na queda de árvores, parte delas no pátio de residências e com protocolo de pedido de poda. Um mutirão para zerar esses pedidos é o mínimo que se espera antes do próximo vendaval.
Aliás
A maior prova de que os alertas da meteorologia são eficazes foi o baixo número de mortos e feridos em um temporal da magnitude do que atingiu o Rio Grande do Sul na terça-feira.