Com a prisão temporária da ex-secretária municipal da Educação Sonia Maria da Rosa, de duas funcionárias e de Jailson Ferreira da Silva, intermediário de compras suspeitas, o escândalo da Smed chega à porta do gabinete do prefeito Sebastião Melo. A delegada Vanessa Pitrez garante que não há nada contra o prefeito, mas Melo sabe que terá de lidar com essa bola de ferro durante a campanha à reeleição neste ano. Porque a Secretaria Municipal da Educação não é uma célula isolada, é parte do governo. E o governo errou desde o início na estratégia de defesa.
Seja porque confiava cegamente na secretária, a quem deu um voto de confiança, seja porque foi convencido de que seria melhor abafar a CPI proposta pela vereadora Mari Pimentel com outra CPI — a chapa-branca —, o prefeito deu margem para ser acusado de estar tentando abafar uma fraude. A foto de despedida de Sonia, que acabou pedindo demissão, vale por mil palavras: ela teve apoio até o fim.
A sindicância da prefeitura concluiu que houve má gestão, apenas. A CPI terminou com dois relatórios que se contradizem — o de Mari Pimentel seguindo a linha da polícia e da Justiça, o de Mauro Pinheiro desqualificando as denúncias e reduzindo tudo a erros, mas deixando a porta aberta para o Ministério Público se aprofundar.
A prisão de três pessoas da Smed e de um lobista que negociava com a prefeitura não deve ser a única preocupação do prefeito. Há também o afastamento do secretário de Modernização Administrativa, Alexandre Borck, conhecido como Xandão, presidente do MDB de Porto Alegre. Por seis meses, Xandão está proibido de trabalhar na administração pública. Há também os mandados de busca e apreensão que devem tirar o sono de quem possa estar envolvido em alguma irregularidade.
As investigações da polícia e do Ministério Público não se encerram com a Operação Capa Dura. Outras denúncias feitas na CPI (e que a comissão dos governistas não permitiu que fossem aprofundadas) estão sendo investigadas e tendem a ter desfecho nos próximos meses.
O tempo da polícia e da Justiça vai coincidir com o tempo da política. Lembremos que o ex-prefeito Nelson Marchezan (PSDB) ficou fora do segundo turno porque a oposição o fustigou até o dia da eleição. Passado o pleito, tudo foi para o arquivo porque, diferentemente de agora, as denúncias não tinham consistência.
A prisão, os mandados de busca e apreensão e o afastamento de um secretário não significam que os citados são culpados. A operação desta terça-feira (23) é parte de um processo. Todos terão direito à ampla defesa e ao final serão declarados culpados ou inocentes, mas no meio disso teremos a campanha eleitoral, os debates, os programas de TV. Melo sabe que nas mãos de adversários políticos um escândalo como o da Smed é nitroglicerina pura.
Aliás
A Operação Capa Dura é uma vitória maiúscula do jornalismo em geral e dos repórteres Adriana Irion e Carlos Rollsing, que não se conformaram com explicações vazias e mergulharam na investigação, porque sabem que está em jogo o dinheiro público.
Eles tinham razão
Chamada de histérica e várias vezes insultada por colegas, a vereadora Mari Pimentel (Novo) mostrou que estava certa ao insistir na investigação dos problemas da Secretaria Municipal da Educação.
Mesmo de um partido ideologicamente oposto ao de Mari, o vereador Roberto Robaina (PSOL) deu suporte à colega no esforço para esclarecer os indícios de corrupção na Smed.