A presença do prefeito, do governador ou do presidente em locais que enfrentam uma tragédia climática é menos importante do que as medidas concretas que os governos adotam. Estar onde o povo está sofrendo, porém, é o melhor sinal de solidariedade. Levar conforto aos que perderam parentes e mostrar que está ao lado deles é próprio dos líderes. Por isso, é incompreensível que o presidente Lula tenha terceirizado para seus ministros a tarefa de vir ao Rio Grande do Sul, sobrevoar as áreas alagadas e anunciar as providências já adotadas e as que virão em socorro das famílias atingidas.
Nos dois primeiros mandatos, era comum que Lula visitasse os locais atingidos por enchentes. Neste, ele interrompeu as férias na Bahia para ir ao litoral de São Paulo, atingido por deslizamentos de terra no Carnaval deste ano. Antes disso, no fatídico 8 de janeiro, foi a Araraquara se solidarizar com a população e com o prefeito Edinho Silva (PT), que enfrentava os efeitos de uma chuvarada. Em abril, foi ao Maranhão com o mesmo propósito. Por que não o Rio Grande do Sul?
É fato que o presidente viaja na quinta-feira (7) para a reunião do G-20 na Índia, mas isso não o impediria, se quisesse, de sobrevoar as áreas atingidas pela enchente dos rios Taquari, das Antas e outros menos conhecidos. Poderia descer em Lajeado e ali fazer ao vivo uma manifestação de conforto. Afinal, o Estado contabiliza no mínimo 21 mortos, número que pode crescer quando as águas baixarem e as comunicações forem restabelecidas.
Apesar de o ministro Paulo Pimenta ter passado a noite buscando informações sobre a dimensão da tragédia, e de ter se encontrado com Lula pela manhã, a ajuda do governo federal no primeiro momento foi pífia. Três botes do Exército para socorrer os flagelados não são nada. Por que não helicópteros para ampliar as chances dos que estão nos telhados ou subiram em árvores para não se afogar?
O governador Eduardo Leite começou o dia sendo cobrado por estar em seu gabinete. Leite alegou que tinha uma entrevista coletiva marcada para as 9h30min, na qual detalhou o que o governo estava fazendo, e disse que a prioridade era usar os helicópteros do Estado no resgate das vítimas que estavam isoladas, algumas nos telhados das casas.
À tarde, Leite entendeu o simbolismo de estar presente e rumou para Lajeado, cidade que com frequência sofre com as cheias do Rio Taquari. Lá se encontrou com o prefeito Marcelo Caumo (PP) e, juntos, anunciaram medidas para socorrer a população.
ALIÁS
Os ciclones e enchentes no Rio Grande do Sul, calor recorde no Centro-Oeste, Norte e parte do Sudeste, assim como na Europa e na América do Norte, são sinais de que o planeta está gritando por socorro. Impossível dissociar esses eventos trágicos das mudanças climáticas decorrentes do aquecimento global.