O MDB saiu ferido da convenção em que por apenas 27 votos aprovou a aliança com o PSDB. O clima tenso no plateia do Teatro Dante Barone se estendeu para os grupos de WhatsApp, com ameaças de votar em outro candidato ou de cruzar os braços na campanha. Nada que, segundo o presidente do partido, Fábio Branco, não possa ser resolvido com diálogo e respeito à decisão democrática da convenção.
Críticos da aliança com o PSDB se arrependeram de não ter investido mais na mobilização, já que a convenção teve comparecimento de 72% e 22 votos nulos ou brancos. Os que se omitiram poderiam ter mudado o resultado, mas na convenção o que importa é o placar final: 239 pela coligação, 212 pela candidatura própria.
Gabriel Souza chegou como único candidato inscrito e saiu como vice de Eduardo Leite, como queriam prefeitos, vereadores e deputados que trabalharam abertamente ou nos bastidores para que isso ocorresse. Os perdedores acusaram a ala vitoriosa de fisiologismo, por ocuparem cargos no governo, sustentaram que o MDB estava traindo a sua história e se retiraram do Dante Barone antes da proclamação dos resultados
No caso de caciques como Pedro Simon, José Ivo Sartori e Sebastião Melo, sequer participaram da convenção. Votaram e foram embora em sinal de protesto, já dando por perdida uma disputa que no fim se revelou apertada. Foi esse mesmo grupo, mais o vereador Cezar Schirmer, que em dezembro do ano passado boicotou a candidatura de Alceu Moreira, marcou uma prévia que acabaria sendo desmarcada e, com exceção de Sartori, questionou a escolha de Gabriel pelo diretório estadual. Dizia-se que a escolha deveria ser da convenção.
Por quase três meses, Schirmer acenou com a possibilidade de ser candidato e só desistiu quando a executiva referendou a tese de que a convenção seria soberana e reafirmou a candidatura própria. Dias depois, a direção nacional do MDB ampliou a pressão pela aliança com o PSDB, a título de contrapartida ao apoio dos tucanos à candidatura de Simone Tebet a presidente. Baleia Rossi veio ao Rio Grande do Sul, e, depois dessa visita, parte dos que não se animavam a expor seu ponto de vista começou a defender a candidatura própria. Os prefeitos eram os mais empolgados e atuaram no vácuo deixado pelos deputados (uns mais outros menos), que silenciaram publicamente, mas trabalharam pela coligação.
Na convenção, a divisão ficou clara logo no início dos discursos. Não era possível arriscar um placar, mas o que mais se ouvia era que seria "apertada". Pelas manifestações e pelas palmas nos discursos favoráveis à candidatura própria, parecia que essa seria a opção vencedora.
O clima melancólico e de divisão no MDB contrastou com a festa dos tucanos, que lotaram o auditório da Amrigs, repleto de bandeiras, apresentaram o jingle de Leite e o material de campanha e gravaram cenas para os programas de TV. Leite fez o último discurso e ficou aguardando pela decisão do MDB.
Pouco depois das 15h, o ex-governador foi ao encontro de Gabriel na Assembleia. Os dois celebraram a aliança diante de Branco, da esposa da Gabriel, Talise, da filha Dora e de três dezenas de militantes do MDB.
Aliás
O PSD tem reunião nesta segunda-feira (1º), às 8h30min, para bater o martelo em torno da aliança com o PSDB, tendo Ana Amélia como candidata ao Senado. Com essa definição, o Podemos terá de rever a indicação de Lasier Martins , que resiste em concorrer a deputado federal ou estadual, como preferem os líderes do partido.
Numerologia eleitoral
Na convenção do PSDB, o presidente do União Brasil brincou com os números. Disse que seu partido é o mais próximo do de Eduardo Leite, porque 44 fica junto do 45.
Na sua vez, o presidente do Cidadania, Cesar Baumgratz, disse que o 23, multiplicado por dois, dá 46, número seguinte ao do PSDB.
O MDB pode agora dizer que três vezes 15 dá 45.
Alô, Simone
Assim que saiu o resultado da convenção do MDB, Gabriel Souza ligou para Simone Tebet e avisou, referindo-se à aliança com Eduardo leite:
– Você ganhou um cabo eleitoral de peso.
De novo
O PSDB usou a convenção para apresentar a marca da campanha. Nas bandeiras aparecia a frase "Tô com e.le de novo". O ponto se explica: é "e" de Eduardo e “le” de Leite.
Primeira vaia
Pela primeira vez em 50 anos, o vereador Cezar Schirmer foi vaiado em uma convenção do MDB. foi quando chamou Eduardo Leite de "doutor pinóquio" e despejou uma saraivada de críticas.
Olívio tem a força
Se restava alguma dúvida sobre o acerto do PT em lançar Olívio Dutra como candidato ao Senado, a convenção se encarregou de provar que foi um golaço.
Aos 81 anos, Olívio é dos poucos que conseguem mobilizar as bases petistas e tirar do armário as bandeiras amarrotadas.