Correção: o placar da convenção do MDB foi de 239 votos favoráveis e 212 contrários à aliança com o PSDB, e não 219 votos contrários, como informado na linha de apoio desta notícia entre 14h50min e 19h37min de 31/07/2022. O texto foi corrigido.
Partido que apresentou candidatos a governador do Rio Grande do Sul desde a redemocratização, o MDB gaúcho tomou, neste domingo (31), um caminho inédito: abrir mão do protagonismo eleitoral para indicar o vice da chapa liderada por Eduardo Leite (PSDB). O anúncio da chapa foi feito logo após a convenção, com a oficialização do deputado estadual Gabriel Souza (MDB) como vice de Leite.
A decisão foi tomada no voto, durante convenção partidária. A tese vencedora contou com 239 votos, enquanto a defesa da candidatura própria recebeu 212 (além de 18 votos nulos e quatro em branco).
O resultado foi proclamado às 14h30min. Às 15h30min, Leite e Gabriel já estavam apertando as mãos em coletiva de imprensa de oficialização da chapa.
— A grande reforma que temos que fazer é na educação. Estaremos do teu lado para juntos governarmos o Rio Grande do Sul, mais uma vez — disse Gabriel Souza, em tom de campanha.
Em sua fala, Leite buscou minimizar o racha interno que acomete o MDB, prometendo destaque para os novos integrantes da coligação.
— Eu sei que, para o MDB, essa discussão (de indicar o vice) não foi fácil. Mas asseguro que não serão coadjuvantes, serão protagonistas — disse Leite.
Gabriel Souza tem 38 anos e é deputado estadual em segundo mandato, tendo presidido a Assembleia Legislativa em 2021. Morador de Tramandaí, no Litoral Norte, o emedebista é mestre em Direito, pós-graduado em Gestão Pública e médico veterinário. Filho mais velho de Cleci e Danton, irmão de Carulina, é casado com a professora Talise e pai da Dora. Atualmente é o primeiro-secretário da Executiva Nacional do MDB e membro do conselho curador da Fundação Ulysses Guimarães (FUG).
Ânimos acirrados
A convenção do MDB na qual os delegados do partido decidiram ou pela candidatura própria ou pela aliança com Leite começou às 8h30min, em clima de animosidade e incerteza. Na abertura dos trabalhos, o coordenador do processo eleitoral interno do MDB, Milton Cava, pediu tranquilidade aos militantes. Minutos depois, a tribuna da convenção era inaugurada com a seguinte acusação:
— Estão trocando a candidatura própria por cargos — provocou, ao microfone, um assessor do deputado federal Osmar Terra.
Nomes de peso do MDB contrários à aliança com o PSDB apareceram juntos, nas primeiras horas da convenção, e logo foram embora em sinal de protesto. A ala, composta por emedebistas da velha guarda como José Ivo Sartori, avalia que deixar de ter candidato próprio significa uma submissão a Leite.
— O Simon e o Sartori foram jovens que deram certo. Espero que os jovens de hoje sigam aquilo que o Simon e o Sartori fizeram — bradou Sebastião Melo, em crítica direta a Gabriel Souza, considerado um expoente da nova geração do partido.
O clima de tensão ficou evidenciado no momento em que Clair Kuhn estendeu a mão para cumprimentar Marco Alba, mas não foi retribuído. A recusa motivou uma troca de ofensas, aos gritos, no corredor da Assembleia Legislativa, onde ocorria a convenção.
Os críticos à aliança com Leite foram os mais barulhentos durante a convenção, mesmo que não tenham conseguido os votos para fazer vigorar a tese da candidatura própria. Cezar Schirmer, um dos porta-vozes desse grupo, endureceu o tom na tribuna e elencou críticas ao governo Leite, colhendo um misto de vaias e aplausos.
— Quem diria que depois de 50 anos eu seria vaiado em uma convenção do MDB? — perguntou Schirmer.
Na mesma fala, Schirmer provocou os seus correligionários:
— O que ele, Leite, fez pela saúde? — questionou, de forma retórica.
Da plateia, veio o grito de resposta de um prefeito emedebista, apoiador das políticas da saúde no governo Leite.
— Pagou os municípios! Pagou os municípios! — devolveu, aos berros, Luiz Carlos Folador (MDB).
Aliança espelha cenário nacional
A apertada vitória da tese da aliança com o PSDB passou pelos prefeitos emedebistas.
— Temos vários programas nas prefeituras (criados no governo Leite). Hoje, praticamente todos os municípios têm alguma obra sendo realizada com recursos do governo do Estado — explicou o presidente da Famurs, entidade que representa os municípios gaúchos, Paulo Salerno (MDB).
A aliança de Leite passou, também, pelo apoio da maior parte dos deputados estaduais e federais do MDB. Próximo de Gabriel Souza, esse grupo pesou a favor do abandono da candidatura própria e da aliança com Leite.
— (A decisão é) para que tenhamos um projeto de continuidade. Se nós dividirmos todo o centro, como MDB, PSDB, União Brasil e PSD, corremos o risco de entregar o projeto de Estado para a esquerda ou a direita — disse o deputado estadual Juvir Costella.
Com o acerto deste domingo, a coligação nacional PSDB-MDB será reproduzida no Rio Grande do Sul. O espelhamento foi articulado ao longo dos últimos dois meses e, em determinado momento, chegou a ser tratado como uma condicionante pelas cúpulas nacionais das duas legendas.
— Uma decisão favorável à coligação no Estado favorece a união dos partidos em nível nacional — disse o ex-governador Germano Rigotto, um dos principais articuladores da aliança com o PSDB.
O cálculo que levou ao abandono da candidatura própria é de que Gabriel Souza e Eduardo Leite, em chapas separadas, disputariam um mesmo eleitorado, o que poderia prejudicar especialmente o emedebista, menos conhecido no Estado do que o ex-governador.
— Se explica muito a necessidade de fazer a coligação porque há uma avaliação de que o partido teria muita dificuldade e nenhum dos dois se elegeria. E nesse cenário quem sairia mais prejudicado é o candidato que não foi governador ainda (Gabriel Souza). De outro lado, há muitas verdades como o fato de que o MDB sempre liderou os processos. (Mas) é outro momento histórico — ponderou José Fogaça.
A cisão interna no MDB tende a se refletir no apoio de emedebistas conhecidos a candidatos de outras chapas. O presidente estadual do MDB, Fabio Branco, projeta que os casos de fogo-amigo durante a campanha serão "minoritários" e diz que não é da tradição da legenda punir os dissidentes.