Diante de um salão lotado, mas sem a presença de representantes do PC do B, a federação liderada pelo PT formalizou neste domingo (31) a candidatura de Edegar Pretto ao governo do Estado. Incomodados com a perda da primeira suplência ao Senado para o PSOL, os comunistas boicotaram o evento.
Apesar da dissidência de última hora, a convenção realizada em um hotel de Porto Alegre celebrou a união da esquerda. Revezando-se ao microfone, lideranças de diferentes partidos destacaram a composição de forças e a inédita aliança entre PT e PSOL no Estado. Logo no início do seu discurso, Pretto comemorou o fortalecimento da coalizão com o anúncio da candidatura de Olívio Dutra ao Senado, na segunda-feira (25), e o acordo em torno de Pedro Ruas (PSOL) para a vaga de vice, na sexta-feira (29).
— Eu disse ao presidente (do PT) Paulo Pimenta que, nessa semana nossa, cada enxadada que dávamos não saía só minhocas, saía petróleo — brincou Edegar.
Em pouco mais de 20 minutos de pronunciamento, Pretto evocou a trajetória da família, formada por pequenos agricultores, sua experiência em três mandatos de deputado estadual, e disparou críticas a dois oponentes, Eduardo Leite (PSDB) e Onyx Lorenzoni (PL).
— Onde vocês estavam que não estenderam a mão às nossas pequenas e microempresas, aos nossos médios empresários que ano passado tiveram 25% das empresas fechadas? Um andava na garupa da moto do capitão, ou "capetão", e o outro, preocupado com seu futuro político e sua vaidade, renunciou ao mandato — atacou.
Tendo o mote "Palavra de Gaúcho" como slogan da campanha, Pretto assinou um manifesto chamado de "Carta de Palavra e Compromisso com o Rio Grande". Com quatro páginas, o documento cita as prioridades de governo, como investimentos em saúde e educação. Porém, destacou o combate à fome e à pobreza como preocupação fundamental.
— Eu serei governador e nenhum pai, nenhuma mãe, vai dormir de noite preocupado se vai ter comida para os filhos no dia seguinte. Nós vamos trabalhar muito para garantir que não falte o básico para nossa gente. Atenção, companheiros da agricultura familiar, assentados da reforma agrária: o Estado será o maior cliente da comida que vocês vão produzir — prometeu.
Aos 51 anos, Pretto é deputado estadual em terceiro mandato, tendo sido o mais votado do PT nas três eleições. Nascido em Miraguaí, é formado em Gestão Pública e pai de três filhos. Pretto começou na política militando por reforma agrária, um legado do pai, o líder sem-terra Adão Pretto, deputado federal falecido em 2009.
Descontentamento no PC do B
No palco, 120 cadeiras abrigavam dirigentes partidários, mandatários e candidatos a deputado. Na primeira fileira, expoentes do PT, como o ex-governador Tarso Genro e o senador Paulo Paim. Gripada, a ex-presidente Dilma Rousseff não compareceu. Além de Tarso e Paim, discursaram Ruas e a presidente estadual do PSOL, Luciana Genro.
Porém, ninguém foi mais ovacionado pela celebrado pela militância do que Olívio. No discurso mais longo da convenção, o ex-governador falou cerca de 30 minutos sobre a importância da mobilização popular, da união da esquerda e da defesa da democracia – tema repisado por todos os oradores -, pedindo uma campanha propositiva.
— Não vamos entrar no jogo de rebaixar o debate político, aceitar as provocações e apelar para adjetivação ou ameaça de violência. Vamos trabalhar com as nossas raízes, o coração e a consciência. Temos clareza de que está em jogo o sistema democrático — afirmou Olívio.
Apesar do discurso uníssono sobre unidade, a convenção se encerrou sem contornar a revolta do PC do B. Presidente da legenda, Juliano Roso não aceitou participar do evento após perder a indicação da primeira suplência de Olívio para Roberto Robaina (PSOL). Até sexta-feira, a vaga estava reservada ao PC do B, que havia indicado a suplente de vereadora Luciane da Silva, a Cuca Congo. Roso ainda tentou reverter a situação minutos antes da convenção, mas foi derrotado por 2 a 1 em votação envolvendo os três partidos da federação (PT, PCdoB e PV).
— Não temos nada contra o PSOL, nada contra Robaina. Estaremos na campanha do Edegar, do Olívio, do Lula. Isso está pacificado. Mas estamos muito descontentes com o descompasso no espaço ocupado pelo PSOL, que chegou agora, e pelo PC do B, que estava na aliança desde o começo. Essa vaga (de primeiro suplente ao Senado) nos foi oferecida no domingo (24) e depois retirada na sexta-feira (29) — reclamou Roso.
Diante do impasse, os três partidos irão se reunir nessa segunda-feira (1º) em busca de entendimento. Há também um certo desconforto do PT com a indicação de Cuca Congo, cujo desempenho eleitoral é considerado pela direção partidária abaixo das expectativas da chapa. Em 2020, Cuca fez 3.028 para vereadora em Porto Alegre. Robaina se elegeu com 5.105.