A eleição para o governo do Rio Grande do Sul transformou-se num quebra-cabeças de mil peças. Ainda que externamente o único pré-candidato confirmado seja o senador Luis Carlos Heinze (PP), nos bastidores está em andamento um movimento para fazer de Onyx Lorenzoni (DEM) o candidato único do bolsonarismo no Estado. A lógica dessa articulação é de que Heinze e Onyx dividem a mesma fatia do eleitorado e, se os dois forem candidatos, correm o risco de um anular o outro e ficarem fora do segundo turno.
O fato que expôs essa movimentação foi a manifestação da deputada Silvana Covatti (PP), na semana passada, de colocar seu nome à disposição do partido para concorrer à eleição majoritária. Como o PP vai oferecer a vaga de vice de Heinze e a do Senado a possíveis aliados, Silvana só teria lugar na chapa majoritária se o candidato a governador for outro —Onyx, no caso.
No início de julho, Onyx foicolhido para ocupar a garupa de Jair Bolsonaro na motociata que percorreu 70 quilômetros no Rio Grande do Sul. Chamado de “curinga” por Bolsonaro na live de quinta-feira passada, o ministro que assumirá a quarta pasta em menos de três anos de governo ganhou um ministério eleitoralmente potente, com orçamento bilionário, cargos e poder político. Sua candidatura a governador, no entanto, depende do que o DEM fará na eleição presidencial. Se o partido tiver outro candidato que não Bolsonaro, Onyx precisaria procurar outra sigla para se abrigar.
Nessa articulação, confirma um deputado do PP, Bolsonaro ofereceria a Heinze a vaga de ministro da Agricultura, já que Tereza Cristina sairá no máximo até 2 de abril, para ser candidata, e assumiria o compromisso de manter o senador em caso de vitória na eleição. Falta, no entanto, combinar com o PP gaúcho, que não abre mão da candidatura própria, e com o senador. As feridas de 2018, quando ele foi obrigado a desistir do Piratini quando a então senadora Ana Amélia Lemos aceitou concorrer a vice de Geraldo Alckmin, ainda não cicatrizaram.
São essas feridas que tornam insustentável a permanência de Ana Amélia no PP, caso Heinze seja candidato a governador. Os dois não cabem no mesmo palanque. Ela não abre mão de disputar o Senado e tem convite de vários outros partidos. No momento, está avaliando as propostas de quatro, entre os quais o PSD, que lhe daria a garantia da candidatura ao Senado.
Candidatura será reafirmada nesta segunda-feira
Marcada com antecedência para discutir uma pauta ampla, que vai da eleição nos diretórios municipais ao esboço de programa de governo para 2022, a reunião da executiva regional, que começa às 14h desta segunda-feira (2) no Master Hotel, em Porto Alegre, deve reafirmar a candidatura do senador Luís Carlos Heinze ao Piratini. Seria desnecessário, já que seu nome foi aprovado pela base, mas os fatos novos exigem que o partido reafirme posição.
Heinze será o segundo a discursar. O diretório estadual, com 150 membros, participará da reunião de forma virtual.
— Luís Carlos é nosso candidato e o presidente Ciro Nogueira já garantiu que dará autonomia aos diretórios regionais — garante o presidente do PP, Celso Bernardi, convicto de que o senador Heinze tem o apoio majoritário do partido.
Um deputado federal conta que Heinze tem sido alertado de que precisa correr “para não ser engolido pela candidatura de Onyx”.
— Ele fica na CPI, defendendo o governo nesta pauta espinhosa, enquanto o Onyx surfa na onda das notícias boas, ainda mais agora com o Ministério do Trabalho na mão — pondera esse deputado.
O PP quer fechar a chapa até o final do ano, mas não abre mão de ter Heinze na cabeça. Por isso, as vagas de vice e senador serão oferecidas a partidos que queiram participar do projeto.
ALIÁS
Ciro Nogueira, que toma posse na terça-feira (3) como chefe da Casa Civil, será um dos protagonistas das definições no Rio Grande do Sul. Como presidente nacional do PP, ele tem a chave do cofre e define a distribuição dos recursos do fundo eleitoral.